quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O Caso da Emergência

Pessoal, larguem tudo e vão ler Backlash. É uma aula sobre jornalismo, sobre como a mídia pode ser preguiçosinha e tendenciosa, sobre como a gente pode analisar uma notícia e verificar se ela tem fundamento ou não. E sobre feminismo também, hehe.

Tá aqui a versão digital do livro (presentim de natal do http://www.midiaindependente.org/). Está em português, é uma delícia de ler, e além do mais é de graça!

(Aviso aos navegantes: trata-se de obra esgotada no Brasil. Assim que houver uma nova edição, é só me avisarem que eu tiro o link.)

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O Caso da Aparência Atual

Eu digo que não uso mais maquiagem, e as pessoas imediatamente passam a achar que eu vou andar esfarrapada. Traje de luxo sendo, claro, moletom e havaianas, para usar em casamentos.

Não é bem assim. No início do meu feminismo prático, eu tive um momento de iluminação sobre um mundo no qual a aparência não importaria e seríamos julgados por nossos eus interiores (aquele que cosmético nenhum dá conta de embelezar). Depois achei que o planeta não estava pronto para isso. E me conformei em seguir os padrões estéticos exigidos do homem ocidental.

Roupa limpa, não-amassada, nem muitos números acima ou abaixo do seu. Sapatos confortáveis de cores neutras. Unhas limpas e curtas (corto umas duas vezes por semana). Cabelo curto (não muito, por enquanto) e penteado. Vestimentas que não apertem, piniquem, restrinjam os movimentos ou prendam a circulação.

Continuo parecendo mulher. Continuo tendo peito (pouco), quadril (muito) e voz fina. E também continuo sem entender por que cargas d'água é tão importante reconhecer o gênero de uma pessoa a metros de distância. É pra discriminar melhor?

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O Caso das Mães Atormentadoras

A Georgia deixou um comentário no último post dizendo que ou eu não tenho mãe ou moro muito longe dela. Porque quem mais a perturba na questão do "se cuidar" é sua mãe. Ela acertou em cheio: eu moro mesmo longe da minha mãe. Se eu morasse perto, minha guinada para o feminismo prático seria menos indolor. Quando escrevi o post otimista, havia acabado de chegar à casa dos meus pais para passar duas semanas. Depois de um contato mais prolongado com a mamã, a coisa mudou um pouco de figura.

Minha mãe continua achando que eu estou "desleixada", ou "largada". Que "a aparência é muito importante nos dias de hoje". Que "radicalizar é ruim".

Perguntei se ela percebia que eu estava feliz. Ela hesitou um momento e me lascou um "mas tenho medo que você se decepcione, porque não dá para mudar o mundo". Eu respondi que, se eu não fizesse nada, o mundo ia ficar do mesmo jeito. Se eu fizesse e o mundo não mudasse, nada se perdia, e além do mais eu estava me divertindo no processo.

O discurso dela é contraditório. Ela diz que minhas teorias só servem pra mim, que já tenho emprego, sou casada e tenho boa aparência (ué, mas eu não sou desleixada?). Eu rebato dizendo que, se eu, com todas essas vantagens, não estiver disposta a desprezar as exigências sociais, quem vai estar?

Mas, enfim, eu converso com ela a título ilustrativo. Porque estou segura e serena em minha decisão e não preciso convencê-la. Uma coisa é explicar; outra é querer que ela concorde. Eu sempre quis a aprovação dos meus pais (quem não quer?), mas um dia descobri que ela não é exatamente necessária. Sou idependente financeiramente: posso fazer as minhas próprias escolhas e bancá-las (em mais de um sentido). Sem briga e sem conflito. Minha mãe reclama, eu sorrio, e pronto.

Chegar nesse nível zen, claro, não é fácil. Eu, por exemplo, gastei trinta e três anos.

Desejo boa sorte à Georgia. E lembro que o jeito mais fácil de encerrar uma discussão é dizer à outra parte: "Você tem razão". E continuar fazendo tudo do jeito que você bem entender.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O Caso da Aparência, Atualização

* Fui a um dos encontros de preparação para o intercâmbio profissional maquiadinha (batom e olheiras escondidas). Ninguém percebeu, comentou ou me tratou de maneira diferente.

* Depois que cortei o cabelo, nas férias, encontrei colegas de trabalho com os quais tenho contato ocasional. Eles me olharam com cara de "alguma coisa está diferente em você, mas eu não sei o que é".

* Reencontrei parentes que não me viam há algum tempo. Eles nem registraram o cabelo curto.

Resumo da ópera: a pessoa que mais se importava com a minha aparência era eu.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O Caso dos Respeitos, Mais Um

Discutimos e discutimos, mas não sei se tocamos em um ponto importantíssimo: há idéias e idéias, e ideologias e ideologias.

Respeitar uma pessoa feminista é muito diferente de respeitar uma pessoa machista. Respeitar uma pessoa "pró-escolha" é muito diferente de respeitar uma pessoa "pró-vida". Respeitar um escravocrata é muito diferente de respeitar um abolicionista.

O feminismo quer que todo mundo tenha direitos; o machismo quer que os homens tenham prerrogativas só para eles. O movimento "pró-escolha" acredita que cabe à mulher decidir se aborta ou não; o "pró-vida" decide que ela não pode, e pronto. A escravatura... não preciso completar.

Existem ideologias includentes e excludentes, e eu só respeito as includentes. Não me venham dizer que as religiões que pregam a submissão das mulheres são equivalentes às que não pregam (tem alguma?). Que as culturas que obrigam à circuncisão feminina são tão válidas quanta as que consideram que as mulheres são donas de seus próprios corpos. Direitos humanos, pô!

Eu "não tenho de respeitar" as escolhas alheias coisa nenhuma. Quando a escolha alheia for espancar os filhos, aceitar passivamente estelionato religioso (dizerem que você não arruma emprego porque não doou o suficiente para Deus é o quê?), desprezar pessoas de raça diferente, a pessoa pode estar feliz o quanto for: eu não concordo, não aceito, não respeito e acabou-se.

* * *

Eu tinha botado "intervenções cirúrgicas desnecessárias" na lista negra. Aí percebi que, se eu acho que se o corpo é da pessoa, inclusive pra ela se matar se quiser, não posso deixar de respeitar a opção por botox e silicone. Esses vão ficar na lista "não acho bom, não valorizo e não aplaudo". Mas respeito, né.

Acho que um bom sinal de que as idéias da gente prestam é o fato de elas geraram situações que não nos agradam individualmente, como no exemplo acima. Porque a idéia não é criar um mundo que eu pessoalmente ache fofo, mas um lugar de justiça e igualdade pra todo mundo.

O Caso dos Filmes

Depois que a gente toma a pílula vermelha da Matrix, muitas coisas que antes passavam batido começam a incomodar. Na verdade, como a gente vive em uma sociedade machista, o surpreendente é que alguma coisa não incomode, né?

Nesta semana vi um filme chamado "The Boat that Rocked". A idéia é legal - um barco/rádio-pirata que transmite rock 24 horas por dia, na Inglaterra dos anos 60. Os locutores são doidões e divertidos, e vários atores saíram de seriados meio desconhecidos a que eu gosto de assistir. Tinha tudo para agradar, certo? Só que tem um detalhe: mulheres não são admitidas no barco. Para variar, elas ficam à margem da diversão. Elas só servem para fazer comida (tem uma cozinheira lésbica na tripulação) e sexo com os locutores, muitos dos quais têm uma aparência seriamente repelente. E é claro que essas últimas, que são trazidas numa lancha e consideram os DJs heróis do rock, são todas novinhas e lindas.

No universo do filme, milhões de ingleses escutam a rádio-pirata. Mais da metade são mulheres. Nesse universo imaginário, será que não teria nem uminha que também gostaria de ser locutora? Os roteiristas acham que não. A única ambição delas é transar com os DJs.

O interessante é que o filme tem fumaças de libertário. A rádio vai contra o "sistema", como demonstrado pelas tentativas governamentais de fechá-la. O rock é revolucionário. Pena que a revolução chega manca para as mulheres - a única liberdade que elas conquistam é a de fazer sexo com seus heróis.

Ontem fui assistira a "Lua Nova". E sabem que gostei bem? Quando eu não estava ofuscada pelos músculos do lobisomem Jake (igualzinho à Bella, que perde a fala umas boas três vezes com a visão do Jacob sem camisa), fiquei pensando como era legal a disputada personagem principal não ser uma gostosona decotada. Tudo bem, o vampiro Edward é chegado dela por causa de seu sanguinho saboroso, mas o Jake e o coleguinha de escola, cujo nome me foge, gostam dela como pessoa mesmo. E a Bella é "gente que faz": ela toma decisões e as executa. Confesso que ela é mais corajosa que eu, que nunca na vida ia me jogar daquele penhasco altíssimo. Estou desconfiada que, na questão "women-friendly", "Lua Nova" ganha mais pontos do que "The Boat that Rocked".

PS: Durante o filme, algumas dúvidas me atormentaram: por que vampiros têm de ser tão afetados (sim, Volturi, estou falando com vocês)? Por que a Bella Swan pisca tanto o olho e franze tanto a testa? Por que a realeza vampiresca é formada por três vampiros homens e nenhuma mulher? Por que o diretor achou que fosse uma boa idéia botar o torso pálido e magro do Edward na telona? Por que a Bella insiste em ficar com o vampiro cabeçudo e gelado, que faz careta toda vez que vai beijá-la (é ele "se controlando", eu sei, mas não é agradável) e não com o lobisomem quentinho e gostosão que a adora?

PS 2: Só pode ser porque a Bella já sabe: o Jacob tem de ficar é comigo (licença poética, Maridinho. Licença poética.).

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O Caso do Respeito

A Setembro faz comentários pertinentes que eu não consigo responder em poucos caracteres. O jeito é fazer um post!

"...conheço pessoas que seguem esses esquemas pré-estabelecidos e são muito felizes! MESMO! É difícil de aceitar, certas vezes, mas todo mundo tem o direito de fazer o que quiser!! Quem quiser se rebelar, ótimo! Quem está feliz como está, ótimo! Acho muito chato quando pessoas que mudaram algum comportamento, ou forma de agir, e começam a criticar outras que estão felizes com a atual situação! Cada um tem que saber o que é felicidade. Nem sempre o que me faz feliz faz outra pessoa feliz. Aceitar diferenças é muito, mas MUITO, mais difícil que qualquer outra coisa!!!"

Eu também acho que aceitar diferenças é muito difícil. Pra mim, é um trabalho diário, porque eu costumava achar que sabia o que é melhor para os outros. Respeito às diferenças, esse é meu novo lema. Entretanto...

Entretanto, às vezes eu acho que as pessoas estão tomando decisões ("fazendo o que querem") sem estarem conscientes de todas as variáveis envolvidas. E aí eu vou lá dar a minha opinião. Vou mesmo. Isso fica claríssimo quando se trata de questões feministas. Porque elas envolvem olhar o mundo de um outro jeito (tipo sair da Matrix).

Às vezes as pessoas me acham chata mesmo. Mas isso não me ofende. Ao contrário - chata é uma pessoa que incomoda. Que muda as coisas de lugar. Que mostra verdades inconvenientes. E, de vez em quando, convence alguém.

Concordo que cada um tem de saber o que é felicidade. Mas questionar a felicidade alheia não significa destruí-la. Questionar tem o sentido de fazer perguntas, mesmo. Eu gosto de trocar idéias e opções. E também posso ser convencida.

E também tem aquela coisa: que diferenças que a gente deve aceitar? E se a pessoa for racista? Machista? Fanaticamente religiosa? Neo-nazista? É complicado, né?

PS: ah, eu não critico as pessoas que estão felizes com a atual situação. Não, eu converso com elas e explico porque elas não deviam estar felizes. Vou embora assim que elas começam a chorar.

PS2: brincadeirinha!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O Caso das Trocas de Rumo

Então vai fazer dois anos que eu trabalho e o Maridinho estuda. Foi muito tranqüilo e sem trauma nenhum, e eu particularmente adorei: ele tem mais tempo livre, então se ocupou dos afazeres domésticos. Ele diz que a profissão atual dele é dondoco, mas eu acho que madame sou eu, que ando pra cima e pra baixo de chofer conjugal e não tenho preocupação alguma fora do horário de trabalho.

Quando nos decidimos por esse esquema, meu pai estressou um pouco, mas escutou nossas razões e nunca falou mais nada. Na verdade, a mais preocupada foi uma amiga nossa muito querida e meio conservadora. Quando a gente se encontra, ela sempre acha que o Maridinho está meio tristinho. Aí, no dia seguinte, eu pergunto pra ele: meu amor, você anda insatisfeito? E ele me olha com total perplexidade e responde: como assim? Eu estou ótimo!

O que eu quero dizer é que, se eu e o Maridinho fôssemos pessoas agarradas aos papéis que a sociedade gosta de destinar a homens e mulheres, estaríamos muito menos felizes do que agora. Provavelmente ele teria continuado num emprego que não o satisfazia mais. Talvez decidisse terminar a faculdade à noite, e aí a gente só se veria nos finais-de-semana. Se topasse parar de trabalhar para estudar mas não levantasse uma palha em casa, provavelmente eu ficaria ressentida. E de qualquer jeito reclamaríamos da queda de nossa capacidade de consumo, porque afinal gastar não é um direito adquirido?

Não estou dizendo que eu tenho a receita do sucesso. Só estou falando que pode ser que sair da rota programada compense. Às vezes exatamente o que nos dizem que é caminho certo para a felicidade pode virar prisão.

Exemplo 1: quando a gente casou, todo mundo nos dizia para comprar um apartamento. Decidimos alugar, e quando o Leo parou de trabalhar, tínhamos reservas financeiras para uma emergência (que nunca aconteceu). Agora ele está fazendo concurso público e a gente topa ir para qualquer lugar do Brasil, porque não tem nada que nos prenda - nem mesmo um imóvel.

Exemplo 2: tenho um casal de amigos que são profissionais muito bem-sucedidos. Eles têm reclamado muito da rotina e da profissão (não, Chris, não são vocês - vocês não reclamam!), e eu e Maridinho vivemos sugerindo alternativas, mas eles ganham tão bem que fica difícil mudarem de carreira, mesmo não estando satisfeitos com ela.

Estão vendo?

domingo, 13 de dezembro de 2009

O Caso da Renegociação, Conforme a Revista Veja

Por coincidência, logo depois que eu falei da renegociação dos papéis no blogue, li uma reportagem publicada na revista Veja na segunda semana de setembro: "Papai não é Mamãe". A tese da matéria é que o politicamente correto "contaminou" a paternidade, exigindo dos homens um desempenho equivalente ao das mulheres no cuidado com os filhos, só que isso vai contra "os fatos da biologia."

Sério, às vezes eu acho que a Veja está de sacanagem. Fico esperando a/o jornalista gritar "é pegadinha!" no meio de uma página. Porque não é possível, gente!

Primeiro: eu queria saber quantos pais são esses que se sentem pressionados a ter o desempenho equivalente ao das mães. Números, porcentagens? Não tem. Pelo jeito, a revista "identificou" uma "tendência social" (como, mesmo?) e foi "investigar".

Ah, não, desculpe: eles fizeram uma enquete. No site da Veja. Com 820 entrevistados. Suuuper representativo, né? Opa, mas a enquete fala que os pais gostariam de passar mais tempo com os filhos. E que, quando estão em casa, raramente desempenham tarefas tipicamente maternas. Ué, mas eles não são "pressionados" a ter um desempenho equivalente ao das mães? Então a pressão não está produzindo resultado algum, né? (Obs: Mamã sempre disse que jornalista não sabia ler estatística.)

Mas continuemos. O problema de exigir comportamento materno dos pais, segundo a amiguinha Veja, é que tal exigência vai contra a biologia.

Uma piadista, a Veja. A cultura demanda mil comportamentos que vão contra a biologia. Essa não seria a própria definição de cultura? Porque se fôssemos seguir só os nossos instintos a gente estava no mato, cruzando com nossos familiares próximos e baixando o braço em quem nos aborrecesse, tipo os jornalistas de certa revista semanal.

Para comprovar a violação das sagradas leis biológicas, a reportagem prossegue com a seguinte pérola: como os níveis de testosterona (o hormônio da autonomia e da agressão) do homem caem quando ele segura um bebê, isso "reforça a tese de que o natural para um homem é ser provedor e protetor - não um trocador de fraldas". Oi? O que reforçaria a teoria seria o fato do hormônio da briga aumentar. Aí, realmente, os moços iam ser babás meio tensas. Como é o contrário que acontece, isso indica que o homem se adapta à situação de cuidador numa boa.

Aí a matéria continua, com um monte de contradições e tiros no próprio pé. Olha, as pessoas se espantam que aquele papai tenha jeito com as crianças! "O fato é que a maioria estranha quando dos homens desempenham tarefas tradicionalmente maternas. Isso é errado?" pergunta gravemente Veja. "Não", ela mesmo responde. "As regras sociais e culturais não surgem do nada. Elas têm uma origem biólógica, diz um psicólogo evolutivo americano." Ah, a escravidão e as castas estão justificadas então, gente. Origem biológica, né.

Enfim, é uma reportagem preguiçosa e mal-costurada. Quem escreveu bolou uma tese, juntou uns fatos, esqueceu de verificar se os fatos comprovavam a tese (devia ser o contrário, né? Fatos primeiro, tese depois), gastou cinco páginas, ganhou um tapinha nas costas do editor e foi embora.

E como não podia deixar de ser, o texto termina assim: "As mulheres batalharam para ter liberdade e igualdade. Mas, quanto à fraternidade com os homens, convenhamos... Não exija tanto do paizão, mamãe." Porque a culpa é nossa, né? A culpa é sempre nossa.

O Caso dos Comentários

Gente, eu amo comentários. Só tem uma coisa que eu gosto mais do que comentários: comentários longos.

Ando desconfiada que é norma da blogosfera manter os comentários sucintos: se for, é uma regra à qual eu sempre desobedeço. Vou aos blogues alheios e, quando tenho muito o que dizer, escrevo adoidado.

Então, pode ficar todo mundo à vontade para se estender por aqui.

* * *

A minha idéia é responder a todo mundo na caixa de comentários. Às vezes tenho tanto a dizer sobre um assunto que acabo fazendo um post. Enfim: pode demorar um pouquinho, mas eu respondo.

sábado, 12 de dezembro de 2009

O Caso da Aparência das Mulheres de Opinião

Sabe aquele jogo que você não tem como sair vencedora? Pois é, um desses jogos é o "Jogo da Aparência das Mulheres de Opinião".

Quando um homem emite seu entendimento, ninguém se preocupa com a cara ou o corpo dele. Quando é uma mulher, peraí: vamos analisar o visual dela primeiro. Rápidos exemplos práticos: se ela se preocupa com a aparência e faz uma plástica, como a Marta Suplicy ou a Dilma, ela é fútil e superficial; se ela não liga, como a Marina Silva ou... alguém mais?, ela é desleixada e pouco feminina. Estão vendo? A gente não tem como ganhar!

Quando a mulher em questão está falando sobre a aparência das mulheres em geral, a briga esquenta mais ainda. É por isso que eu não queria colocar a minha foto aqui, pelo menos por enquanto, porque a minha briga atual são as exigências da sociedade em relação à beleza feminina. Ponho foto, e vai ter gente dizendo, conforme o gosto do freguês, "ela é feia, então ela é contra o embelezamento porque não adianta pra ela" ou "ela é bonita, então ela é contra o embelezamento porque não precisa dele". (O subtexto, claro, sendo que o que nós mulheres buscamos é sacanear umas às outras.) Ou seja: qualquer que seja minha aparência, ela vai desautorizar minha fala. Então no momento vocês não vão conhecer minha carinha.

Aproveitando o tema e alguns comentários, eu não acho que exista exatamente uma oposição "vaidade" X "feminismo". A escritora de "O Mito da Beleza", Naomi Wolf, um livro feminista fantástico, por exemplo, é linda e arrumada. O que acontece é que eu ando muito desconfiada da vaidade feminina (e não das mulheres que são vaidosas). Ando achando que a vaidade que a sociedade nos prega, e que tem tudo a ver com consumismo, é um presente de grego. Eu percebo que o mundo recompensa as mulheres vaidosas, mas ando remoendo se a recompensa não é mesquinha. Eu acho a maior parte dos tratamentos de beleza deliciosos, sou uma expert em maquiagem e sempre andei na moda, mas algo anda me dizendo que estive usando meus poderes para o (meu próprio) mal.

Eu até gostaria de ser convencida do contrário. Tenho um monte de pincéis da MAC que eu quase não usei.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O Caso da Renegociação

Uma coisa que eu percebo que está meio bagunçada na cabeça de quase todo mundo (na minha, inclusive) é como ficam os papéis das mulheres/homens depois do feminismo.

Antes era fácil: a mulher cuidava da casa, o homem trabalhava. A mulher se ocupava das necessidades dos filhos, o homem era o provedor. As pessoas sabiam o que era esperado delas, e isso era reconfortante - a não ser, claro, que você não concordasse com o papel que te davam, e aí você estava ferrado.

Acho que, nessa divisão de tarefas, o homem levava vantagem, simplesmente porque era ele que tinha o poder de decisão. Como "cabeça do casal", no fim das contas a última palavra era dele. Inclusive para terminar o casamento, porque afinal ele tinha emprego e podia se sustentar. A mulher que quisesse se separar ia viver de quê, brisa?

Então faz sentido que, nesse contexto, a beleza da mulher fosse importante. Afinal, ela tinha de agradar para conquistar e manter o maridinho provedor. Já eles não precisavam ser belos, porque eles faziam o dinheiro!

Aí veio o feminismo e a pílula, o direito ao voto e ao mercado de trabalho e a revolução sexual, e as coisas viraram de ponta-cabeça.

Em tese, deveria ocorrer uma redistribuição de tarefas, certo? Se a mulher trabalha também, o homem se livra da obrigação de ser o único provedor, e em troca passsa a ser co-responsável pela esfera privada, o lar e os filhos.

Mas não foi o que ocorreu. Em parte porque muitos homens não quiseram (e até eu, que sou mais boba, se estivesse na posição deles também ia resistir); em parte porque muitas mulheres também não. É difícil abrir mão dos papéis que séculos de civilização nos ensinaram.

Resultado: um monte de mulher sobrecarregada, "supermãe", que trabalha, cuida da casa, cuida dos filhos e ainda (desaforo!) tem de ser linda. Uns homens que acham isso ótimo, outros que "ajudam" em casa, e outros que até tentam participar meio-a-meio, mas às vezes dão de cara com a resistência da esposa, que acha que ele vai quebrar o bebê ou não dá conta de fazer as compras do mês tão bem quanto ela faz.

Tudo isso é meio inconsciente e inteiramente compreensível. Estamos todos lutando para nos ajustar às nossas novas funções. Muitas vezes a mulher que trabalha é filha e neta de donas-de-casa, que ensinam, no mínimo pelo exemplo, que ela é indispensável e insubstituível na cozinha e no berçário. Só que, quando a mulher abarca o mercado de trabalho sem querer ou conseguir se livrar dos papéis que ela já tinha, será que ela está fazendo um bom negócio? Não quer dizer que ela não dê conta: ela dá, sim. Mas a que preço? Será que ela não fica estressada e cansada? Será que ela não ensina para seus filhos homens que eles não têm de se preocupar com a esfera privada, porque a esposa dele, além de trabalhar, vai dar conta de tudo?

Tem solução para essa bagunça? Tem, sim. O jeito é renegociar os papéis. O que é chato, trabalhoso, confuso e muitas vezes frustrante? Ô, se é. Mas, sinceramente, eu não vejo outra saída.

Renegociar significa, claro, dar um passo atrás e analisar o que a gente faz, o que a gente não faz, qual o sentido desses atos e o que funciona pra gente. Mas não precisa ser tudo de uma vez: é um processo. E também significa escutar o outro e suas razões e sentidos.

É difícil, mas eu acho que funciona.

* * *

PS: a renegociação também é interna: agora que eu, mulher, trabalho e sou dona do meu próprio nariz, será que a minha aparência continua tão importante assim? Eu preciso ser bela? Por que a minha rotina de beleza é tão mais trabalhosa e toma tão mais tempo do que a rotina de beleza dos homens belos? O que ela me impede de fazer (molhar o cabelo por causa da escova, correr por causa dos saltos, estudar mais uma hora porque as unhas devem ser feitas)? Posso me expressar por outras maneiras além de por meio da minha aparência? O que aconteceria se eu ficasse (gulp!) feia? Eu ia perder amigos, emprego, marido? Já me ocorreu que a minha definição de "bela" talvez seja diferente da definição deles?

Olha, eu não estou dizendo que você é feia-boba-chata porque você é vaidosa, e eu sou esperta-legal-feminista porque estou tentando não ser. Só estou pedindo pra gente refletir sobre o assunto.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O Caso dos Cabeulos

Na cidade onde eu moro faz um calor desgraçado. E meu cabelo tá caindo que é uma coisa. E em fevereiro vou passar um mês fora, e já me avisaram que lá o racionamento de água é coisa séria, então os banhos tem de ser rápidos mesmo.

Solução racional para todos esses problemas? Cortar o cabelo, claro. Curto.

Eu já quis cortar o cabelo curtinho outras vezes, mas sempre encontrava uma grande barreira: e se eu ficar... (gulp) feia? Ah, o horror. Então eu continuava com o cabelo comprido, que é a "moldura do rosto", o "signo da feminilidade" etc. etc. Vocês se lembram na cena do livro "Mulherzinhas" (que também teve várias versões cinematográficas ótimas) em que a Jo vendia o cabelo para pagar a passagem da mãe para visitar o pai ferido na guerra, e uma das irmãs gritava: "Mas Jo, era sua única beleza!"? Pois é. Eu não podia cortar o cabelo, porque e se ele fosse minha única beleza? (Sim, eu cortaria para minha mãe visitar meu pai ferido, ou vice-versa, mas essa oportunidade nunca se me apresentou.)

Como agora estou na fase em que não me preocupo mais com a minha única beleza, porque afinal de contas eu não sou enfeite e não preciso ficar deleitando os olhos de ninguém, ontem fui ao salão e disse: quero cortar curto.

(Devo fazer um parênteses para contar como, anteriormente, era a saga toda vez que eu queria mudar o corte: eu folheava um monte de revistas femininas; olhava na internet; pesquisava se o cabelo que eu estava querendo ia valorizar o formato do meu rosto; confirmava se o formato do meu rosto era aquele mesmo; calculava se o novo visual ia me deixar mais bela/sexy/atraente; imaginava se eu ia ter de mudar a maquaigem para ressaltar mais os olhos ou a pele; e levava várias fotos para o salão.

Isso quando eu não queria trocar a cor também.)

A cabeleireira me deu umas revistas de cortes para eu escolher um, porque "curto", para quem corta cabelo, pode significar mil coisas. Dei uma olhadinha e gostei logo de um corte simpático cujo modelo tinha o cabelo da cor do meu.

Enquanto eu cortava, o pessoal do salão perguntou se o meu marido não ia reclamar. Tão normal isso, as pessoas acharem que a mulher é propriedade do homem, e que ele tem direito a decidir ou criticar a aparência dela. O que até faz sentido, né? Afinal, se mulher é enfeite, seu principal valor reside em sua beleza, e ai dela se modificar ou estragar essa característica.

Eu gostaria de ter respondido "no meu cabelo mando eu", mas confesso que só disse que o Maridinho achava tudo o que eu fazia bonito. O que é verdade, mas não ajuda em nada mulheres que têm namorados/maridos mala. (Se bem que talvez ajude, se elas perceberem que essa é uma atitude normal e saudável, e que eles ficarem dizendo que querem que elas façam escova definitiva não é prova de amor, não.)

De volta ao cabelo: escolhi o corte simpático, mas saí do salão parecendo a Odette Roitman, claro. Nem esquentei. Antes eu ficaria aflita, e lavaria o cabelo correndo para ficar menos com cara de mulher chata e rica, mas agora tenho coisas mais importantes a fazer. (Ok, irmãzinhas: chata eu já sei que sou mesmo, mas estou tentando disfarçar.)

Fiquei diferente de cabelo curto? Fiquei. De vez em quando passo por um espelho e tomo um sustinho. Acho que fiquei engraçada, ao invés de mais bela/sexy/atraente. E isso é legal. Ando tentando tomar decisões práticas e não estéticas, porque acho que o valor da praticidade é maior - sem falar que a estética é subjetiva e móvel, e aflitivamente ligada aos interesses da indústria do consumo.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O Caso do Terceiro Concurso de Blogueiras da Lola

Olha que legal: estou participando do Terceiro Concurso de Blogueiras do Escreva, Lola, Escreva. A idéia não é ganhar (Qual seria o prêmio em um concurso sobre o tema Maternidade? Um neném? He.), mas ter o blogue divulgado. Bom, né?

O Terceiro Concurso de Blogueiras já produziu um resultado: o Maridinho leu várias postagens concorrentes e anunciou que não quer ter menines. Foi uma mudança de política interna, porque antes ele achava que, como filhos mudam mais a vida da mulher do que do que a do homem (porque afinal ela é que engravida e amamenta), eu é que ia decidir sobre a nossa m/paternidade.

Mas eu nem pisquei, porque isso é um não-problema. Eu deixei para decidir depois, né? Preferencialmente antes dos 50. Muita água vai rolar até lá. Afinal, eu me livrei daquele detalhezinho bobo, o relógio biológico, com a decisão de adotar.

(Eu entendo perfeitamente que as pessoas queiram passar seus genes para a frente. Mas, sinceramente, não acho que meus genes estejam com essa bola toda, não. Eu e o Maridinho somos míopes; ele tem hipotireoidismo, eu tenho colesterol suspeito. É verdade que a altura e o senso de direção do Maridinho são caracteres a se preservar, mas provavelmente a minha falta e noção geográfica e meu pouco mais de metro e meio iam neutralizar essas vantagens evolutivas. E nos acho bem inteligentes, mas não há qualquer garantia que os herdeiros também sejam. Na verdade, estou certa de que eles vão odiar ler. E, independentemente da quantidade de neurônios, é claro que eles vão querer passar os carnavais na Bahia ouvindo axé, véi. Ou pagode, só pra contrariar, trocadilho incluso.)

sábado, 5 de dezembro de 2009

O Caso da Viagem no Brasil

Para minha grande alegria e imensa satisfação, sexta-feira foi o último dia de batente antes de três semanas de férias (até o Natal). Ueba! Eu gosto de trabalhar e gosto do salário que recebo, mas também acho que pausas eventuais são tudo de bom.

Pela primeira vez desde o final de 2005, meu último dia de trabalho não significou correr para casa, fechar as malas, ir para BH e embarcar no dia seguinte. Dessa vez a minha viagem não vai ser para outro país: vai ser no Brasil mesmo. Em minha mente! (Vocês já viram o filme chinês em que os guerreiros lutavam "em suas mentes"? Pois então!)

Estou equipadíssima (dessa vez não me preocupei com malas reduzidas): tenho "História do Brasil" do Boris Fausto, "Casa Grande & Senzala" do Gilberto Freyre, "Raízes do Brasil" do Sérgio Buarque de Holanda (pai do Chico!), "Formação Econômica do Brasil", do Celso Furtado e outros livros seminais que o correio está trazendo. Ah, e um atlas escolar, que comprei no supermercado por 12 reais.

Estou me divertindo pacas. É muito interessante retomar a história do Brasil com olhos de adulta, com mais senso crítico e mais conhecimento de mundo. Os fatos deixam de ser acontecimentos isolados e passam a peças de um complexo quebra-cabeça. (Embora, claro, meu cérebro de editora de "Contigo!" grave preferencialmente as fofoquinhas, como D. Pedro I ter sido pai de 18 filhos.)

Também descobri que, apesar de ser formada em duas graduações da área de Humanas, meus conhecimentos em História e Geografia são bem mequetrefes. Será que as provas abertas do vestibular da UFMG não eram tão difíceis assim ou eu é que esqueci tudo?

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O Caso do Ser ou Não Ser (Mãe)

Eu não penso muito em ter filhos, mas de vez em quando eu penso. E às vezes quero, às vezes não quero, e a decisão a que eu cheguei é que vou deixar a decisão pra depois, quando o Maridinho tiver passado em um concurso, e eu tiver escolhido uma carreira definitiva, e o Rio sediar as Olimpíadas e...

É verdade que eu tenho 33 anos, então não dá para deixar a decisão para um futuro muito longínquo. Mas essa questão eu já resolvi: se eu não consegui engravidar quando eu quiser, adoto. E não me digam que filho adotado não é a mesma coisa: filho é filho, uai. E o adotado tem a grande vantagem de já vir pronto. Principalmente se já tiver uns dois aninhos e começando a falar, hehe.

(Sem falar que sempre tem a chance da irmã I. - somos praticamente cópias genéticas – engravidar, não querer o bebê e me dar para criar. A chance é pequena, porque a irmã I. é diligente com métodos anticoncepcionais, e também não tenho certeza se ela ia querer bancar a Juno, mas quem sabe?)

De qualquer forma, os planos B e C não valem nada se eu não decidir colocar o plano A em ação. E aí é que mora a grande dúvida. Porque ser mãe, né? É uma responsabilidade. Pelo menos já tirei da cabeça que para ser uma boa mãe eu teria de prover os filhotes com escolas internacionais, intercâmbios variados e viagens ao exterior freqüentes (para eles praticarem línguas, pólo e iatismo, claro). E também não esquento com o fato de a minha própria genitora (aquela mulher sem vaidade) ter dito, num certo Natal, que ela não achava que eu ia ser uma boa mãe.

Ela já tinha tomado umas cervejas, e vocês sabem, in vino veritas (isto é, cachaça é soro da verdade). Mas tudo bem, porque eu acho que, pra ela, maternidade é sinônimo de cuidar da comida, da roupa e da saúde. E ela acha que, pra mim, é contar historinha, usar fantasia, dançar na mesa da sala e ensinar como funciona o sistema solar (Sim, foi esse o método que usei com a irmã I., que é oito anos mais nova que eu, com ótimos resultados. Vocês não acham que o mínimo que ela pode fazer em sinal de gratidão é me presentear com seu filho primogênito? E um suprimento vitalício de chocolate? Pois é, eu também acho). Mas é claro que eu sei que comida, roupa e saúde são importantes. E não tenho a menor intenção de deixar menines passarem fome (ainda mais estando de posse de um suprimento vitalício de chocolate).

Enfim, tá tudo organizado aqui na cabecinha. Só não apareceu ainda a janela apropriada. Porque eu tenho um monte, um monte de coisas a fazer antes de me reproduzir. Mas não se preocupem: tenho certeza de que no meu aniversário de 50 anos estarei praticamente decidida a respeito.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O Caso da Dose do Remédio

Para minha grande indignação (bem, na verdade fui eu que pedi), meu médico diminuiu a dose do meu remedinho mágico. É que eu estava muito feliz, muito desinibida, muito sem sono, muito sem fome e muito sem foco para trabalhar.

Ele disse que quem fica eufórica tende a dar livre rédea a seus desejos. Por exemplo: numa conversação, pergunta, responde e comenta. Em relação às compras, entra no vermelho sem pensar duas vezes.

Eu falei que estava gostando mais das pessoas, mas que ainda não estava inconveniente em festas. E que, em relação aos gastos, eu estava mais pão-dura, se é que isso é possível.

Ele achou que eu estava bem, e que talvez a minha nova visão de mundo fosse o meu eu normal quimicamente equilibrado, mas resolveu diminuir a dose por via das dúvidas.

Nos primeiros dias eu fiquei meio irritadiça (coisa que não acontecia há meses!) e fiz umas caretinhas, segundo o Maridinho. Mas depois relaxei. Agora estou feliz, desinibida, com a fome e o sono voltando ao habitual e trabalhando alegre e eficientemente.

E com a satisfação de ter diminuído os gastos com o remedinho, que custa uma fortuna. He.

O Caso do Blogue Eventualmente Bilíngue

Tô sem tempo/paciência de fazer versões e traduções dos meus posts, então o blogue vai ser bilíngue quando dá. Senão eu acabo não escrevendo.

Imagino que chegando mais perto da gloriosa aventura australiana (fim de fevereiro!) o tempo/paciência devem aumentar, então hang on (güenta aí).

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

The Case of Baldness/O Caso da Calvície

I’m convinced I’m going bald.

It’s not an illusion: I shed hair like a Siberian Husky. It seemed to get better when I had my hair cut, but only because the strands weren’t that long.

I’ve been to dermatologists, hematologists and endocrinologists. They order exams, which come back normal, prescribe me chocolate-flavored ferritin pills, and tell me to control stress. It doesn’t work. You see, I wasn’t stressed out at all – unless about hair loss, that is.

However, since I’ve become a practical feminist, I don’t care anymore. If I go bald I go bald. I’m not going to spend time, money and hope undergoing laser treatments or hair transplants (ugh). I will elect Sinéad O’Connor and Carequinha the Clown as my idols and be done with it.

Besides, Hubby is probably not facing a hairy future either. We’ll be a happy bald couple.

* * *

Estou convencida de que estou ficando careca.

Não é impressão minha: ando soltando fios como um husky siberiano. Achei que tinha melhorado quanto cortei o cabelo, mas foi só porque os fios estavam mais curtos.

Já fui a dermatologistas, hematologistas e endocrinologistas. Eles pedem exames, que dão resultados normais, receitam pílulas de ferritina sabor chocolate, e me falam para controlar o estresse. Nada funciona. Olha só, eu nunca estive estressada – a não ser em relação à queda de cabelo, claro.

Entretanto, depois que eu virei uma feminista prática eu não ligo mais. Se eu ficar careca eu fiquei careca. Não vou gastar tempo, dinheiro e esperanças me submetendo a tratamentos a laser ou a transplantes capilares (eca). Vou adotar Sinéad O’Connor e o palhaço Carequinha como ídolos e pronto.

Além disso, provavelmente o Maridinho também não terá um futuro cabeludo. Seremos um casal careca e feliz.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

The Case of the Bilingual Blog/O Caso do Blogue Bilíngue

Since I'll be spending one month in Australia next year in a international exchange, in which I plan to dazzle the Aussies (pronounced "Ozies". Yes, like the Osbourne) with my wit, professional knowledge and impeccable English, this blog will be bilingual from now on. Don't tell me I'm horribly snobbish - believe me, I know.

Please be so kind as to point any errors or omissions.

Now let's get to business as usual.

* * *
Uma vez que eu vou passar um mês na Austrália no ano que vem em um intercâmbio internacional, no qual eu pretendo impressionar os Aussies (pronuncia-se "Ozies". Sim, como o Osbourne) com minha agudeza, conhecimento profissional e inglês impecável, este blogue será bilíngue de agora em diante. Não precisam me dizer que eu sou uma esnobe horrível - podem acreditar, eu sei.

Solicito a gentileza de apontarem quaisquer erros ou omissões.

E agora de volta à programação normal.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O Caso dos Espalhadores

Existem pessoas construtoras e pessoas espalhadoras (e tem também pessoas que não querem nada com a dureza, mas vamos deixá-las para uma análise posterior). Tanto as construtoras quanto as espalhadoras se preocupam em estudar, trabalhar e melhorar. Só que, enquanto as construtoras decidem um rumo e vão por ele, firmes, fortes e decididas, as espalhadoras saltitam aqui e acolá, mudam de idéia, de casa, de emprego e de interesses.

Tenho muitos amigos que são construtores. Acho que ser construtor deve ser muito bom: você tem um sentimento ótimo de propósito e de progresso. Os meus construtores estão bem de vida e de carreira. São bem-sucedidos e estão satisfeitos e me dão ótimos presentes.

Eu, feliz ou infelizmente, sou uma espalhadora (menos em relação ao Maridinho. E aos livros). Sempre achei que isso significava que eu não sabia o que eu queria da vida. Sempre tentei seguir o exemplo dos meus pais e irmãs construtoras. Só que não dava certo, claro. Eu sofria quando obedecia ao estilo de vida construtor (porque eu não sou uma construtora) e sofria quando não obedecia ao estilo de vida construtor (porque eu me sentia um alien).

Um dia, uma amiga me disse que ser espalhadora era uma característica minha, que eu tinha de assumi-la e de parar de mimimi. Fiquei em choque, depois neguei, aí passei pela depressão e pela ansiedade (fases clássicas do luto). Agora decidi assumir: sou espalhadora, sim – e daí?

Não é que eu não saiba o que eu quero da vida: eu sei, mas o que eu quero muda a cada conjunto de anos. Não é que eu não queira construir – eu quero, mas gravito em torno de várias edificações delicadas, não de um grande prédio imponente.

Sim, ser bem-sucedida como espalhadora é muito diferente de ser bem-sucedida como construtora. Sabendo disso, não me angustio mais. Aliás, acho até que sou uma espalhadora de grande sucesso.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O Caso do Projeto de Lei

Está em discussão no Senado um projeto de lei que pune o preconceito de gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero. Ou seja, fica proibido despedir alguém, ou impedi-lo de entrar ou ficar num espaço público, ou reprová-lo em seleção educacional ou profissional, ou não deixar que ele se hospede em algum lugar, exclusiva e unicamente porque esse alguém é homossexual/ bissexual/transgênero.

A iniciativa é ótima, certo? Porque a gente sabe que essas coisas acontecem, e não deviam acontecer. Então vamos lá votar a favor do projeto de lei, isto é, no “sim” da enquete que o Senado está fazendo (à direita, no meio da página). Porque o “não” está ganhando, vocês acreditam?

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O Caso da(s) Vacina(s)

A Austrália exige que eu seja vacinada contra febre amarela para eu botar meus pezinhos lá. Então tá.

Tem um posto de saúde a dois quarteirões do trabalho, o que é muito conveniente. Fui lá na segunda-feira, e me avisaram que cada posto oferece essa vacina em um dia da semana, o que eu achei muito razoável, já que aqui na região não está tendo epidemia nem nada. O dia do meu é quarta-feira, e me disseram para ir de manhã, porque a vacina de febre amarela é retirada da geladeira às 8 da matina e perde a validade depois de quatro horas.

Então hoje lá me fui, toda pimpona. Fiquei com uma impressão ótima: o posto é novinho (inaugurado em 2003) e cheio de profissionais vestidos de branco. Enquanto eu esperava, um deles passou e me ofereceu o complexo da dengue, que não é vacina mas ameniza os efeitos da doença se eu a contrair. Duas gotinhas e pronto. Na sala da vacina, a moça que me atendeu (e que não estava vestida de branco) era simpática e atenciosa e sugeriu que eu tomasse também a primeira dose da anti-tetânica. Aceitei satisfeitíssima, porque minha mãe vive mandando eu tomar.

As picadinhas foram muito rápidas e doeram só um pouquinho. Além disso, troquei muitas risadinhas com bebês fofinhos que estavam na fila (antes de serem vacinados, claro: depois das injeções eles se sentiram profundamente feridos em suas dignidades e choraram de se acabar).

Resumo da ópera: saí do posto de saúde ultra-vacinada. E tudo de graça!

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O Caso do Casamento Noturno

Eu ia lavar o rosto depois das fotos, mas dei de cara com um monte de amigos e uma taça de espumante que não se esvaziava nunca, e aí já viu: só fui me lembrar depois, quando me vi no espelho do banheiro.

Só que maquiagem não sai totalmente com água e sabão: ela sai mesmo é com removedor ou hidratante. E algodão. E nenhum dos itens estava disponível. Aí fiquei com preguiça.

Em minha defesa, informo que não passei esmalte na unha, nem usei meia-calça, nem fui ao salão arrumar o cabelo, nem botei adereços fora os brincos pequenos e a aliança que eu já uso normalmente.

Ainda assim, continuo com inveja do Maridinho (meu novo ícone de moda e beleza): banho, barba e terno, e ele estava pronto.

Ainda hei de arranjar um equivalente para mim.

sábado, 14 de novembro de 2009

O Caso do Dinheirinho

Eu estava elaborando um raciocínio emocionante e sensível sobre o fato do dinheiro não trazer felicidade, quando percebi quão hipócrita eu estava sendo.

Porque eu tenho dinheiro, né? Sou bem classe média. O que quer dizer que sou muito mais rica do que uma grande parcela de brasileiros e uma parcela maior ainda da população mundial. Tenho acesso à internet e a viagens e a um monte de futilidades.

Mesmo se eu perdesse meu emprego amanhã, eu estaria em condição melhor do que muitíssima gente. Porque eu tenho diploma, sei falar inglês, e tenho parentes e contatos classe média que poderiam me ajudar.

Então, quando eu estava refletindo sobre "dinheiro não traz felicidade", eu estava pensando nos milhões de um jogador de futebol de sucesso (ou mesmo em um salário de juiz, hehe). O que é uma visão distorcida, né? Dinheiro traz felicidade, sim. Dinheiro para as necessidades básicas é essencial. E dinheiro para ter acesso ao que transcende ao simples sobreviver humano (música, esporte, literatura, arte) também.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O Caso dos Adornos

Como eu já disse aqui, não acho que haja nada intrinsecamente errado com moda e os cosméticos. Nas mais diferentes culturas, presentes e passadas, as pessoas (mulheres e homens) se adornaram e se adornam para a guerra, para a religião, para as comemorações. Isso tem um valor simbólico e reinforça valores. É uma forma de expressão. Tem todo um significado positivo.

O meu problema com a moda e os cosméticos é que as mulheres da sociedade ocidental atual são encorajadas a encará-los como um fim em si mesmos. E mais, como atributos inerentes à feminilidade – logo, às suas personalidades. (Acho que é por isso que muitas mulheres relutam fortemente em abrir mão deles e me olham com espanto/terror quando eu digo que eu não mexo mais com essas coisas, não.)

Como fim em si mesmo, moda e cosméticos não me parecem produtivos. Não levam a lugar nenhum. E também não sei se aumentam a auto-estima, como a mídia adora dizer. Ao contrário: acho que ficar se embelezando constantemente obriga a pessoa a ficar se examinando à procura de defeitos (reais ou imaginários) para corrigi-los. E aí ela encontra, claro. (Eu não falei que, agora que me olho no espelho a uma distância de três palmos, estou me achando?) A auto-estima não faria você gostar de si mesmo independentemente da situação? Não vejo vantagem nenhuma em gostar de mim mesma quando estou em forma, maquiada, bem-vestida, de salto alto e bolsa de marca. É fácil demais.

Não é que eu discorde do popular “quem se ama se cuida”. Eu só discordo do significado que dão ao “se cuidar”. Não tem lógica que seja diferente para mulheres e homens. Se cuidar é se alimentar bem, se exercitar, evitar o stress, não fumar, ter amigos, fazer coisas que gosta. Não acho que se cuidar precise englobar escovas definitivas de formol e unhas permanentemente feitas (exigências exclusivamente femininas).

Já me disseram que moda e cosméticos são formas de auto-expressão, e aí reside seu valor. Eu acho até que eles têm potencial para isso, mas, na nossa sociedade brasileira atual, não vejo auto-expressividade nenhuma. A maior parte das mulheres segue o padrãozinho que a mídia apresenta. E somos as primeiras a criticar (mea culpa, mas estou eliminando esse hábito) se alguém sai fora do padrão.

Ando tentando usar minhas roupas para me expressar. E estou expressando que minha aparência é um dado neutro, não-importante. Que o importante é o que eu penso, digo, decido.

E estou gostando muito.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O Caso das Roupas de Trabalho

Então eu não quero mais usar roupa que diga que eu sou enfeite. Ainda mais no trabalho, porque eu não sou modelo nem miss. Na prática, isso se traduz em calças retas, cores sóbrias, ombros cobertos e sapatos fechados. O que inutiliza várias peças que eu vinha usando alegremente.

Eu tenho algumas de trabalho roupas que obedecem às minhas novas regras, mas não muitas. Então andei apelando para calças jeans e camisetas compridinhas. Como trajes unissex, elas foram muito eficazes. Como uniforme de trabalho, não deu muito certo.

Os executivos da minha seção usam calça social, camisa de manga comprida e gravata. Perto deles, de jeans, eu fico parecendo estagiária (assim como outro analista-júnior. Ele também usa jeans e também parece estagiário.). É incrível a autoridade que reveste quem veste uma camisa de colarinho.

O jeito é largar a calça jeans pra lá. Céus! Para cumprir a agenda do feminismo terei eu de violar a agenda do pão-durismo e... gulp!, comprar roupas novas?

Não temam, meus amigos. A irmã I. veio em meu socorro. Ela me ofereceu um monte de camisas sociais que eu aceitei com muita satisfação. Agora é só me abalar a BH para buscá-las.

Aí fica só faltando um sapato decente que não me mastigue dedinhos, dedões e tendões.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O Caso do Ditado Oriental

* Atualização: joguei a água do banho com o bebê dentro, opa, o chá, fora. Agora vou me dedicar a meu novo objetivo: ser a melhor jogadora de Master ever!

No início de 2010 saberemos se a minha nova estratégia - parar de estudar para concursos chatos (não que eu realmente tivesse começado a, mas tinha toda intenção de) e me aprofundar em assuntos legalíssimos que me interessam - me trouxe poder, luxo e sedução.

E vamo que vamo!

* * *

Postagem original:

Existe um ditado oriental que diz: "Para beber vinho em uma taça cheia de chá, primeiro é necessário jogar o chá fora".

Mas eu não gosto de jogar o chá fora, né? Eu não quero deixar o chá para trás. Eu me agarro ao chá com todas as minhas forças.

Aí eu sofro e me descabelo. Fico com o chá e aceito o vinho. E o resultado é uma bebida intragável: não abro mão de nada e acabo perdendo tudo.

(Muita calma nessa hora.)

Coragem, né? Vamos respirar fundo e derramar o chá.

Detalhes do vinho (uva, safra, buquê) no início de 2010.

(Aviso aos aflitos: este post não tem nada a ver com o Maridinho, nem com bebês, nem com problema de saúde, nem com nada ruim. Este post é só alegria.)

domingo, 8 de novembro de 2009

O Caso dos Personagens Femininos que Alegram Meu Coraçãozinho


Leslie Winkle (Big Bang Theory): ela é física experimental. Ela trabalha no Caltech. Ela gerencia sua vida sexual com objetividade e resultados. E ela é a única que encara Sheldon Cooper, o físico teórico mais arrogante de todos os tempos.

Sue Sylvester (Glee): ela é malvada. Ela é mandona. Ela é competitiva. Ela é reacionária. E ela é hilária.

Ellie garota (Altas Aventuras): ela tem uns sete anos. Ela é banguela. Ela é faladora. Ela é empolgada. Ela sabe que a aventura está lá fora - e ela vai correndo atrás.

Lisbeth Salander (Os Homens que Não Amavam as Mulheres): ela é anti-social. Ela fala pouco. Ela tem um QI elevado e uma memória fotográfica. E ela sabe se defender muito bem.
Hermione Grangier (Harry Potter): ela é cabeluda, cacheada e caxias. E umas três vezes mais inteligente que o Harry Potter e o Ron Weasley. Juntos. Definitivamente Voldemort esteve o tempo todo perseguindo a pessoa errada - se ele tivesse dado cabo da Hermione, a série teria terminado lá pelo segundo livro. Com o triunfo absoluto do mal, é claro.

Mafaldo (do Quino): ela é basicamente uma contestadora. Ela gosta dos Beatles e odeia sopa. E é simplesmente o máximo.

O Caso da Opressão Interna

Continuo firme e forte no meu propósito de não usar cosméticos e roupas reveladoras. E foi tudo muito bem até... ontem.

Vamos lá: o meu intercâmbio profissional para a Austrália exige que o pessoal do grupo passe por um monte de reuniões e preparativos. O povo é gente fina e estou me dando bem com todo mundo, especialmente com as duas moças, a D. e a S., que são especialmente alegres e legais.

Ontem houve um encontro. A D. estava toda arrumada, maquiada, com a pele perfeita e longos cabelos lisos e com luzes. E eu me senti meio... desleixada.

Se a D. fosse fresca, provavelmente eu não teria tido essa reação. Eu assumiria uma atitude de superioridade moral, do tipo "também, é uma cabeça oca que só se preocupa com a aparência". Só que a D. não é enjoada: ela fala um monte de palavrão, adora dirigir (bem e rápido), dá plantões de 48 horas, bebe. Ou seja: ela é uma pessoa legal - que, entre outras coisas, se preocupa com a aparência.

Devo dizer que não acho que alguém teria me tratado de maneira diferente caso eu tivesse arrumada. Foi tudo normal, e eu ainda fiquei trocando risadas e piscadelas por um bom tempo com uma criança de dois anos que gostou de mim. O que quer dizer que a minha reação foi totalmente infundada, baseada numa pressão vinda de mim mesma. Eu não estava realmente desleixada: se eu fosse um homem, as pessoas diriam que eu tinha até caprichado no visual.

Ou seja: as milhares de revistas femininas/propagandas de produtos de beleza/filmes hollywoodianos que eu vi fizeram seu estrago, e ele foi grande. Está internalizado. E anda junto com um sentimento de competição inteiramente ridículo.

Não quer dizer que eu vá desistir do meu novo estilo de vida. Mas indica que minha auto-estima está muito mais ligada à minha aparência do que eu imaginava - e é justamente disso que eu estou querendo me livrar.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O Caso do Casamento Diurno

Eu e Leo fomos padrinhos de casamento de um amigo muito querido dele (e meu também). Normalmente eu arrancaria os cabelos decidindo a roupa, porque a cerimônia estava marcada para as cinco da tarde (não, não foi aquele casamento ao qual eu estou planejando ir maquiada de zumbi e lavar o rosto depois das fotos).

Mas dessa vez o feminismo não permitiu a agressão aos poucos cabelos que me restam. Afinal, fui convidada porque os noivos gostam de mim, não porque eu seja a Miss Universo.

O que não quer dizer que eu pretendia ia de chinelo e calça de moletom. As pessoas confundem “não se preocupar com a aparência” com o total desprezo à higiene e às convenções sociais. Eu só decidi não esquentar a cabeça.

(O que não quer dizer que o convite não fosse importante para mim. Era, muito. Tanto era que eu e o Maridinho fizemos questão de dar um presente legal. Tanto era que viajamos até BH para comparecer, mesmo estando superocupados. Tanto era que ficamos até a festa acabar para levar os noivos ao hotel.)

O que fiz foi simplificar. Eu tenho a sorte de ter uma irmã do mesmo tamanho que eu, então peguei o vestido emprestado. Sequei o cabelo em casa. Não usei acessórios (nem bolsa). Segurei a mão na maquiagem (e fiquem meus amigos avisados que, após o próximo casamento, não me sentirei mais obrigada a pintar a cara para comparecer a eventos).

Fiquei pronta rapidinho e sem despesa alguma. Chegamos adiantados à cerimônia. Reencontramos um monte de amigos. Batemos papo adoidado. Não gastei um único segundo pensando em retocar o batom. Me diverti a valer e foi muito, muito bom!

O único senão foi o diabólico sapato de salto alto e bico fino. Eu sei, “é lindo”. Mas 1) o salão da festa já estava decorado, então os noivos não precisavam que eu fosse mais um enfeite; 2) por que o valor “beleza” é superior ao valor “conforto”, ou melhor, ao valor “não ter os dedos dos pés em constante estado de esmagamento e o tendão de Aquiles em carne viva”?

A gente não precisa só de uma revista feminina feminista. A gente precisa também de estilistas feministas, urgente!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O Caso da Bolsa

Estou planejando mais um passo na minha libertação: eliminar as bolsas.

Vamos falar a verdade, povo: a tal da bolsa é muito chata. Ela imobiliza um braço. Ela pesa no ombro. Ela tem de combinar com a roupa. Ela atiça os batedores de carteira. Concordo que ela tem lá sua utilidade, mas será mesmo necessária? Afinal, o Maridinho não usa bolsa e se vira muito bem. Ele põe chave, carteira e celular... nos bolsos! Por que diabos tanta roupa feminina não tem bolso? Será um lobby dos produtores de bolsas?

Concordo que algumas bolsas têm alças longas, que você pode cruzar no corpo, o que permite o uso das duas mãos. Mas são poucas. E concordo que dá para levar coisas importantes, como documentos grandes e remédios, na bolsa. Mas a gente não carrega documentos grandes e remédios o tempo todo, né? Então por que não usar a bolsa (de alças longas, que você pode cruzar no corpo, o que permite o uso das duas mãos) só quando necessário?

As mulheres gostam de bolsa, né? Porque é bonito. É enfeite. “Compõe”. E dá-lhe a gastar dinheiro em variadas bolsas, porque ter uma só não pode – “o que é que os outros vão dizer?” (Não tenho idéia do que os outros vão dizer. Que você só tem uma bolsa? Quem é essa pessoa que fica reparando em bolsas alheias? Get a life.). Ah, também não pode porque você precisa de uma bolsa específica para cada ocasião (óia os olhinhos do capitalismo brilhando).

Nesse fim-de-semana, fui a casamento e cinema sem bolsa. Foi fantástico. Me senti livre, leve e solta. É verdade que no casamento me aproveitei dos bolsos do terno do Maridinho, mas no cinema eu enfiei chaves, documento e dinheiro nos bolsos da calça jeans. Gostei tanto que eu estou querendo adotar.

Na minha atual bolsa gigante eu levo chaves, remédios diversos, celular, óculos escuros e caneta. Lá dentro também vai uma bolsinha com pasta e escova de dentes, base em pó, batom, brilho, lápis de olho, lixa e band-aid. Meu plano de ação é o seguinte: cortar um pedaço das cartelas de remédio e guardá-las na carteira; colocar nos bolsos a carteira, junto com o celular e as chaves; pôr no rosto os óculos escuros. As maquiagens e a lixa, que eu não uso mais, ficam em casa; o band-aid vai pra dentro da carteira; e a pasta e a escova de dentes eu deixo no trabalho, já que é lá que eu escovo os dentes depois do almoço mesmo.

E aí fico precisando só um guarda-roupa decente, com roupas que tenham... bolsos!

(Enquanto isso vou dar um jeito de arrumar uma bolsinha míni de alça longa que cruza no corpo.)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

O Caso do Elogio ao Pão-Durismo

Eu sempre fui pão-dura. Aprendi com mamã, aquela mulher sem vaidade e sem dó do consumismo (acabo de perceber que as duas coisas andam muito juntas).

Por pão-durismo entenda-se que eu não acho que comprar seja diversão, nem que a última versão de um objeto que eu já tenho seja uma necessidade (Ok, tem uma exceção: comprar livros é diversão pura. Principalmente depois que descobri a alegria dos baratíssimos volumes gentilmente usados .)

É verdade que passei por uma fase consumista uns meses atrás. Ela foi boa enquanto durou. Mas eu descobri que (surpresa!) a aquisição de bens proporciona uma alegria momentânea, mas não felicidade duradoura (pelo menos pra mim). E que dá o maior trabalho guardar, conservar e proteger a bagulhada toda. Então voltei saltitante às minhas origens.

O pão-durismo é um incompreendido em nossa sociedade de consumo. Ele não é a escravidão à moeda, mas a liberdade. Com um dinheirinho guardado, você é livre para aproveitar um monte de oportunidades. Se você não precisa de uma fortuna para se manter, pode optar por um trabalho que pague menos, mas empolgue mais, ou parar de trabalhar para estudar, ou parar de trabalhar ponto (se aquele dinheirinho guardado era respeitável).

O pão-durismo é ecológico e solidário. Ele recicla caixas, roupas, móveis, presentes que você não gostou. Ele pega emprestado ao invés de comprar, e empresta ao invés de incentivar que você compre.

O pão-durismo é criativo. Menos itens quer dizer mais combinações inesperadas. Menos cores quer dizer que tudo vai com tudo. O pão-durismo é minimalista e elegante: seu credo é “menos é mais”.

E o pão-durismo é feminista, né? Não torrar dinheiro em cosméticos, acessórios, roupas da moda e salão de beleza agradaria profundamente à Simone de Beauvoir.

Ser pão-duro com o dinheiro não significa ser pão-duro com as idéias, nem com as emoções, nem com o entusiasmo.

Muito antes pelo contrário.