quinta-feira, 26 de novembro de 2009

The Case of Baldness/O Caso da Calvície

I’m convinced I’m going bald.

It’s not an illusion: I shed hair like a Siberian Husky. It seemed to get better when I had my hair cut, but only because the strands weren’t that long.

I’ve been to dermatologists, hematologists and endocrinologists. They order exams, which come back normal, prescribe me chocolate-flavored ferritin pills, and tell me to control stress. It doesn’t work. You see, I wasn’t stressed out at all – unless about hair loss, that is.

However, since I’ve become a practical feminist, I don’t care anymore. If I go bald I go bald. I’m not going to spend time, money and hope undergoing laser treatments or hair transplants (ugh). I will elect Sinéad O’Connor and Carequinha the Clown as my idols and be done with it.

Besides, Hubby is probably not facing a hairy future either. We’ll be a happy bald couple.

* * *

Estou convencida de que estou ficando careca.

Não é impressão minha: ando soltando fios como um husky siberiano. Achei que tinha melhorado quanto cortei o cabelo, mas foi só porque os fios estavam mais curtos.

Já fui a dermatologistas, hematologistas e endocrinologistas. Eles pedem exames, que dão resultados normais, receitam pílulas de ferritina sabor chocolate, e me falam para controlar o estresse. Nada funciona. Olha só, eu nunca estive estressada – a não ser em relação à queda de cabelo, claro.

Entretanto, depois que eu virei uma feminista prática eu não ligo mais. Se eu ficar careca eu fiquei careca. Não vou gastar tempo, dinheiro e esperanças me submetendo a tratamentos a laser ou a transplantes capilares (eca). Vou adotar Sinéad O’Connor e o palhaço Carequinha como ídolos e pronto.

Além disso, provavelmente o Maridinho também não terá um futuro cabeludo. Seremos um casal careca e feliz.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

The Case of the Bilingual Blog/O Caso do Blogue Bilíngue

Since I'll be spending one month in Australia next year in a international exchange, in which I plan to dazzle the Aussies (pronounced "Ozies". Yes, like the Osbourne) with my wit, professional knowledge and impeccable English, this blog will be bilingual from now on. Don't tell me I'm horribly snobbish - believe me, I know.

Please be so kind as to point any errors or omissions.

Now let's get to business as usual.

* * *
Uma vez que eu vou passar um mês na Austrália no ano que vem em um intercâmbio internacional, no qual eu pretendo impressionar os Aussies (pronuncia-se "Ozies". Sim, como o Osbourne) com minha agudeza, conhecimento profissional e inglês impecável, este blogue será bilíngue de agora em diante. Não precisam me dizer que eu sou uma esnobe horrível - podem acreditar, eu sei.

Solicito a gentileza de apontarem quaisquer erros ou omissões.

E agora de volta à programação normal.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O Caso dos Espalhadores

Existem pessoas construtoras e pessoas espalhadoras (e tem também pessoas que não querem nada com a dureza, mas vamos deixá-las para uma análise posterior). Tanto as construtoras quanto as espalhadoras se preocupam em estudar, trabalhar e melhorar. Só que, enquanto as construtoras decidem um rumo e vão por ele, firmes, fortes e decididas, as espalhadoras saltitam aqui e acolá, mudam de idéia, de casa, de emprego e de interesses.

Tenho muitos amigos que são construtores. Acho que ser construtor deve ser muito bom: você tem um sentimento ótimo de propósito e de progresso. Os meus construtores estão bem de vida e de carreira. São bem-sucedidos e estão satisfeitos e me dão ótimos presentes.

Eu, feliz ou infelizmente, sou uma espalhadora (menos em relação ao Maridinho. E aos livros). Sempre achei que isso significava que eu não sabia o que eu queria da vida. Sempre tentei seguir o exemplo dos meus pais e irmãs construtoras. Só que não dava certo, claro. Eu sofria quando obedecia ao estilo de vida construtor (porque eu não sou uma construtora) e sofria quando não obedecia ao estilo de vida construtor (porque eu me sentia um alien).

Um dia, uma amiga me disse que ser espalhadora era uma característica minha, que eu tinha de assumi-la e de parar de mimimi. Fiquei em choque, depois neguei, aí passei pela depressão e pela ansiedade (fases clássicas do luto). Agora decidi assumir: sou espalhadora, sim – e daí?

Não é que eu não saiba o que eu quero da vida: eu sei, mas o que eu quero muda a cada conjunto de anos. Não é que eu não queira construir – eu quero, mas gravito em torno de várias edificações delicadas, não de um grande prédio imponente.

Sim, ser bem-sucedida como espalhadora é muito diferente de ser bem-sucedida como construtora. Sabendo disso, não me angustio mais. Aliás, acho até que sou uma espalhadora de grande sucesso.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O Caso do Projeto de Lei

Está em discussão no Senado um projeto de lei que pune o preconceito de gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero. Ou seja, fica proibido despedir alguém, ou impedi-lo de entrar ou ficar num espaço público, ou reprová-lo em seleção educacional ou profissional, ou não deixar que ele se hospede em algum lugar, exclusiva e unicamente porque esse alguém é homossexual/ bissexual/transgênero.

A iniciativa é ótima, certo? Porque a gente sabe que essas coisas acontecem, e não deviam acontecer. Então vamos lá votar a favor do projeto de lei, isto é, no “sim” da enquete que o Senado está fazendo (à direita, no meio da página). Porque o “não” está ganhando, vocês acreditam?

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O Caso da(s) Vacina(s)

A Austrália exige que eu seja vacinada contra febre amarela para eu botar meus pezinhos lá. Então tá.

Tem um posto de saúde a dois quarteirões do trabalho, o que é muito conveniente. Fui lá na segunda-feira, e me avisaram que cada posto oferece essa vacina em um dia da semana, o que eu achei muito razoável, já que aqui na região não está tendo epidemia nem nada. O dia do meu é quarta-feira, e me disseram para ir de manhã, porque a vacina de febre amarela é retirada da geladeira às 8 da matina e perde a validade depois de quatro horas.

Então hoje lá me fui, toda pimpona. Fiquei com uma impressão ótima: o posto é novinho (inaugurado em 2003) e cheio de profissionais vestidos de branco. Enquanto eu esperava, um deles passou e me ofereceu o complexo da dengue, que não é vacina mas ameniza os efeitos da doença se eu a contrair. Duas gotinhas e pronto. Na sala da vacina, a moça que me atendeu (e que não estava vestida de branco) era simpática e atenciosa e sugeriu que eu tomasse também a primeira dose da anti-tetânica. Aceitei satisfeitíssima, porque minha mãe vive mandando eu tomar.

As picadinhas foram muito rápidas e doeram só um pouquinho. Além disso, troquei muitas risadinhas com bebês fofinhos que estavam na fila (antes de serem vacinados, claro: depois das injeções eles se sentiram profundamente feridos em suas dignidades e choraram de se acabar).

Resumo da ópera: saí do posto de saúde ultra-vacinada. E tudo de graça!

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O Caso do Casamento Noturno

Eu ia lavar o rosto depois das fotos, mas dei de cara com um monte de amigos e uma taça de espumante que não se esvaziava nunca, e aí já viu: só fui me lembrar depois, quando me vi no espelho do banheiro.

Só que maquiagem não sai totalmente com água e sabão: ela sai mesmo é com removedor ou hidratante. E algodão. E nenhum dos itens estava disponível. Aí fiquei com preguiça.

Em minha defesa, informo que não passei esmalte na unha, nem usei meia-calça, nem fui ao salão arrumar o cabelo, nem botei adereços fora os brincos pequenos e a aliança que eu já uso normalmente.

Ainda assim, continuo com inveja do Maridinho (meu novo ícone de moda e beleza): banho, barba e terno, e ele estava pronto.

Ainda hei de arranjar um equivalente para mim.

sábado, 14 de novembro de 2009

O Caso do Dinheirinho

Eu estava elaborando um raciocínio emocionante e sensível sobre o fato do dinheiro não trazer felicidade, quando percebi quão hipócrita eu estava sendo.

Porque eu tenho dinheiro, né? Sou bem classe média. O que quer dizer que sou muito mais rica do que uma grande parcela de brasileiros e uma parcela maior ainda da população mundial. Tenho acesso à internet e a viagens e a um monte de futilidades.

Mesmo se eu perdesse meu emprego amanhã, eu estaria em condição melhor do que muitíssima gente. Porque eu tenho diploma, sei falar inglês, e tenho parentes e contatos classe média que poderiam me ajudar.

Então, quando eu estava refletindo sobre "dinheiro não traz felicidade", eu estava pensando nos milhões de um jogador de futebol de sucesso (ou mesmo em um salário de juiz, hehe). O que é uma visão distorcida, né? Dinheiro traz felicidade, sim. Dinheiro para as necessidades básicas é essencial. E dinheiro para ter acesso ao que transcende ao simples sobreviver humano (música, esporte, literatura, arte) também.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O Caso dos Adornos

Como eu já disse aqui, não acho que haja nada intrinsecamente errado com moda e os cosméticos. Nas mais diferentes culturas, presentes e passadas, as pessoas (mulheres e homens) se adornaram e se adornam para a guerra, para a religião, para as comemorações. Isso tem um valor simbólico e reinforça valores. É uma forma de expressão. Tem todo um significado positivo.

O meu problema com a moda e os cosméticos é que as mulheres da sociedade ocidental atual são encorajadas a encará-los como um fim em si mesmos. E mais, como atributos inerentes à feminilidade – logo, às suas personalidades. (Acho que é por isso que muitas mulheres relutam fortemente em abrir mão deles e me olham com espanto/terror quando eu digo que eu não mexo mais com essas coisas, não.)

Como fim em si mesmo, moda e cosméticos não me parecem produtivos. Não levam a lugar nenhum. E também não sei se aumentam a auto-estima, como a mídia adora dizer. Ao contrário: acho que ficar se embelezando constantemente obriga a pessoa a ficar se examinando à procura de defeitos (reais ou imaginários) para corrigi-los. E aí ela encontra, claro. (Eu não falei que, agora que me olho no espelho a uma distância de três palmos, estou me achando?) A auto-estima não faria você gostar de si mesmo independentemente da situação? Não vejo vantagem nenhuma em gostar de mim mesma quando estou em forma, maquiada, bem-vestida, de salto alto e bolsa de marca. É fácil demais.

Não é que eu discorde do popular “quem se ama se cuida”. Eu só discordo do significado que dão ao “se cuidar”. Não tem lógica que seja diferente para mulheres e homens. Se cuidar é se alimentar bem, se exercitar, evitar o stress, não fumar, ter amigos, fazer coisas que gosta. Não acho que se cuidar precise englobar escovas definitivas de formol e unhas permanentemente feitas (exigências exclusivamente femininas).

Já me disseram que moda e cosméticos são formas de auto-expressão, e aí reside seu valor. Eu acho até que eles têm potencial para isso, mas, na nossa sociedade brasileira atual, não vejo auto-expressividade nenhuma. A maior parte das mulheres segue o padrãozinho que a mídia apresenta. E somos as primeiras a criticar (mea culpa, mas estou eliminando esse hábito) se alguém sai fora do padrão.

Ando tentando usar minhas roupas para me expressar. E estou expressando que minha aparência é um dado neutro, não-importante. Que o importante é o que eu penso, digo, decido.

E estou gostando muito.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O Caso das Roupas de Trabalho

Então eu não quero mais usar roupa que diga que eu sou enfeite. Ainda mais no trabalho, porque eu não sou modelo nem miss. Na prática, isso se traduz em calças retas, cores sóbrias, ombros cobertos e sapatos fechados. O que inutiliza várias peças que eu vinha usando alegremente.

Eu tenho algumas de trabalho roupas que obedecem às minhas novas regras, mas não muitas. Então andei apelando para calças jeans e camisetas compridinhas. Como trajes unissex, elas foram muito eficazes. Como uniforme de trabalho, não deu muito certo.

Os executivos da minha seção usam calça social, camisa de manga comprida e gravata. Perto deles, de jeans, eu fico parecendo estagiária (assim como outro analista-júnior. Ele também usa jeans e também parece estagiário.). É incrível a autoridade que reveste quem veste uma camisa de colarinho.

O jeito é largar a calça jeans pra lá. Céus! Para cumprir a agenda do feminismo terei eu de violar a agenda do pão-durismo e... gulp!, comprar roupas novas?

Não temam, meus amigos. A irmã I. veio em meu socorro. Ela me ofereceu um monte de camisas sociais que eu aceitei com muita satisfação. Agora é só me abalar a BH para buscá-las.

Aí fica só faltando um sapato decente que não me mastigue dedinhos, dedões e tendões.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O Caso do Ditado Oriental

* Atualização: joguei a água do banho com o bebê dentro, opa, o chá, fora. Agora vou me dedicar a meu novo objetivo: ser a melhor jogadora de Master ever!

No início de 2010 saberemos se a minha nova estratégia - parar de estudar para concursos chatos (não que eu realmente tivesse começado a, mas tinha toda intenção de) e me aprofundar em assuntos legalíssimos que me interessam - me trouxe poder, luxo e sedução.

E vamo que vamo!

* * *

Postagem original:

Existe um ditado oriental que diz: "Para beber vinho em uma taça cheia de chá, primeiro é necessário jogar o chá fora".

Mas eu não gosto de jogar o chá fora, né? Eu não quero deixar o chá para trás. Eu me agarro ao chá com todas as minhas forças.

Aí eu sofro e me descabelo. Fico com o chá e aceito o vinho. E o resultado é uma bebida intragável: não abro mão de nada e acabo perdendo tudo.

(Muita calma nessa hora.)

Coragem, né? Vamos respirar fundo e derramar o chá.

Detalhes do vinho (uva, safra, buquê) no início de 2010.

(Aviso aos aflitos: este post não tem nada a ver com o Maridinho, nem com bebês, nem com problema de saúde, nem com nada ruim. Este post é só alegria.)

domingo, 8 de novembro de 2009

O Caso dos Personagens Femininos que Alegram Meu Coraçãozinho


Leslie Winkle (Big Bang Theory): ela é física experimental. Ela trabalha no Caltech. Ela gerencia sua vida sexual com objetividade e resultados. E ela é a única que encara Sheldon Cooper, o físico teórico mais arrogante de todos os tempos.

Sue Sylvester (Glee): ela é malvada. Ela é mandona. Ela é competitiva. Ela é reacionária. E ela é hilária.

Ellie garota (Altas Aventuras): ela tem uns sete anos. Ela é banguela. Ela é faladora. Ela é empolgada. Ela sabe que a aventura está lá fora - e ela vai correndo atrás.

Lisbeth Salander (Os Homens que Não Amavam as Mulheres): ela é anti-social. Ela fala pouco. Ela tem um QI elevado e uma memória fotográfica. E ela sabe se defender muito bem.
Hermione Grangier (Harry Potter): ela é cabeluda, cacheada e caxias. E umas três vezes mais inteligente que o Harry Potter e o Ron Weasley. Juntos. Definitivamente Voldemort esteve o tempo todo perseguindo a pessoa errada - se ele tivesse dado cabo da Hermione, a série teria terminado lá pelo segundo livro. Com o triunfo absoluto do mal, é claro.

Mafaldo (do Quino): ela é basicamente uma contestadora. Ela gosta dos Beatles e odeia sopa. E é simplesmente o máximo.

O Caso da Opressão Interna

Continuo firme e forte no meu propósito de não usar cosméticos e roupas reveladoras. E foi tudo muito bem até... ontem.

Vamos lá: o meu intercâmbio profissional para a Austrália exige que o pessoal do grupo passe por um monte de reuniões e preparativos. O povo é gente fina e estou me dando bem com todo mundo, especialmente com as duas moças, a D. e a S., que são especialmente alegres e legais.

Ontem houve um encontro. A D. estava toda arrumada, maquiada, com a pele perfeita e longos cabelos lisos e com luzes. E eu me senti meio... desleixada.

Se a D. fosse fresca, provavelmente eu não teria tido essa reação. Eu assumiria uma atitude de superioridade moral, do tipo "também, é uma cabeça oca que só se preocupa com a aparência". Só que a D. não é enjoada: ela fala um monte de palavrão, adora dirigir (bem e rápido), dá plantões de 48 horas, bebe. Ou seja: ela é uma pessoa legal - que, entre outras coisas, se preocupa com a aparência.

Devo dizer que não acho que alguém teria me tratado de maneira diferente caso eu tivesse arrumada. Foi tudo normal, e eu ainda fiquei trocando risadas e piscadelas por um bom tempo com uma criança de dois anos que gostou de mim. O que quer dizer que a minha reação foi totalmente infundada, baseada numa pressão vinda de mim mesma. Eu não estava realmente desleixada: se eu fosse um homem, as pessoas diriam que eu tinha até caprichado no visual.

Ou seja: as milhares de revistas femininas/propagandas de produtos de beleza/filmes hollywoodianos que eu vi fizeram seu estrago, e ele foi grande. Está internalizado. E anda junto com um sentimento de competição inteiramente ridículo.

Não quer dizer que eu vá desistir do meu novo estilo de vida. Mas indica que minha auto-estima está muito mais ligada à minha aparência do que eu imaginava - e é justamente disso que eu estou querendo me livrar.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O Caso do Casamento Diurno

Eu e Leo fomos padrinhos de casamento de um amigo muito querido dele (e meu também). Normalmente eu arrancaria os cabelos decidindo a roupa, porque a cerimônia estava marcada para as cinco da tarde (não, não foi aquele casamento ao qual eu estou planejando ir maquiada de zumbi e lavar o rosto depois das fotos).

Mas dessa vez o feminismo não permitiu a agressão aos poucos cabelos que me restam. Afinal, fui convidada porque os noivos gostam de mim, não porque eu seja a Miss Universo.

O que não quer dizer que eu pretendia ia de chinelo e calça de moletom. As pessoas confundem “não se preocupar com a aparência” com o total desprezo à higiene e às convenções sociais. Eu só decidi não esquentar a cabeça.

(O que não quer dizer que o convite não fosse importante para mim. Era, muito. Tanto era que eu e o Maridinho fizemos questão de dar um presente legal. Tanto era que viajamos até BH para comparecer, mesmo estando superocupados. Tanto era que ficamos até a festa acabar para levar os noivos ao hotel.)

O que fiz foi simplificar. Eu tenho a sorte de ter uma irmã do mesmo tamanho que eu, então peguei o vestido emprestado. Sequei o cabelo em casa. Não usei acessórios (nem bolsa). Segurei a mão na maquiagem (e fiquem meus amigos avisados que, após o próximo casamento, não me sentirei mais obrigada a pintar a cara para comparecer a eventos).

Fiquei pronta rapidinho e sem despesa alguma. Chegamos adiantados à cerimônia. Reencontramos um monte de amigos. Batemos papo adoidado. Não gastei um único segundo pensando em retocar o batom. Me diverti a valer e foi muito, muito bom!

O único senão foi o diabólico sapato de salto alto e bico fino. Eu sei, “é lindo”. Mas 1) o salão da festa já estava decorado, então os noivos não precisavam que eu fosse mais um enfeite; 2) por que o valor “beleza” é superior ao valor “conforto”, ou melhor, ao valor “não ter os dedos dos pés em constante estado de esmagamento e o tendão de Aquiles em carne viva”?

A gente não precisa só de uma revista feminina feminista. A gente precisa também de estilistas feministas, urgente!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O Caso da Bolsa

Estou planejando mais um passo na minha libertação: eliminar as bolsas.

Vamos falar a verdade, povo: a tal da bolsa é muito chata. Ela imobiliza um braço. Ela pesa no ombro. Ela tem de combinar com a roupa. Ela atiça os batedores de carteira. Concordo que ela tem lá sua utilidade, mas será mesmo necessária? Afinal, o Maridinho não usa bolsa e se vira muito bem. Ele põe chave, carteira e celular... nos bolsos! Por que diabos tanta roupa feminina não tem bolso? Será um lobby dos produtores de bolsas?

Concordo que algumas bolsas têm alças longas, que você pode cruzar no corpo, o que permite o uso das duas mãos. Mas são poucas. E concordo que dá para levar coisas importantes, como documentos grandes e remédios, na bolsa. Mas a gente não carrega documentos grandes e remédios o tempo todo, né? Então por que não usar a bolsa (de alças longas, que você pode cruzar no corpo, o que permite o uso das duas mãos) só quando necessário?

As mulheres gostam de bolsa, né? Porque é bonito. É enfeite. “Compõe”. E dá-lhe a gastar dinheiro em variadas bolsas, porque ter uma só não pode – “o que é que os outros vão dizer?” (Não tenho idéia do que os outros vão dizer. Que você só tem uma bolsa? Quem é essa pessoa que fica reparando em bolsas alheias? Get a life.). Ah, também não pode porque você precisa de uma bolsa específica para cada ocasião (óia os olhinhos do capitalismo brilhando).

Nesse fim-de-semana, fui a casamento e cinema sem bolsa. Foi fantástico. Me senti livre, leve e solta. É verdade que no casamento me aproveitei dos bolsos do terno do Maridinho, mas no cinema eu enfiei chaves, documento e dinheiro nos bolsos da calça jeans. Gostei tanto que eu estou querendo adotar.

Na minha atual bolsa gigante eu levo chaves, remédios diversos, celular, óculos escuros e caneta. Lá dentro também vai uma bolsinha com pasta e escova de dentes, base em pó, batom, brilho, lápis de olho, lixa e band-aid. Meu plano de ação é o seguinte: cortar um pedaço das cartelas de remédio e guardá-las na carteira; colocar nos bolsos a carteira, junto com o celular e as chaves; pôr no rosto os óculos escuros. As maquiagens e a lixa, que eu não uso mais, ficam em casa; o band-aid vai pra dentro da carteira; e a pasta e a escova de dentes eu deixo no trabalho, já que é lá que eu escovo os dentes depois do almoço mesmo.

E aí fico precisando só um guarda-roupa decente, com roupas que tenham... bolsos!

(Enquanto isso vou dar um jeito de arrumar uma bolsinha míni de alça longa que cruza no corpo.)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

O Caso do Elogio ao Pão-Durismo

Eu sempre fui pão-dura. Aprendi com mamã, aquela mulher sem vaidade e sem dó do consumismo (acabo de perceber que as duas coisas andam muito juntas).

Por pão-durismo entenda-se que eu não acho que comprar seja diversão, nem que a última versão de um objeto que eu já tenho seja uma necessidade (Ok, tem uma exceção: comprar livros é diversão pura. Principalmente depois que descobri a alegria dos baratíssimos volumes gentilmente usados .)

É verdade que passei por uma fase consumista uns meses atrás. Ela foi boa enquanto durou. Mas eu descobri que (surpresa!) a aquisição de bens proporciona uma alegria momentânea, mas não felicidade duradoura (pelo menos pra mim). E que dá o maior trabalho guardar, conservar e proteger a bagulhada toda. Então voltei saltitante às minhas origens.

O pão-durismo é um incompreendido em nossa sociedade de consumo. Ele não é a escravidão à moeda, mas a liberdade. Com um dinheirinho guardado, você é livre para aproveitar um monte de oportunidades. Se você não precisa de uma fortuna para se manter, pode optar por um trabalho que pague menos, mas empolgue mais, ou parar de trabalhar para estudar, ou parar de trabalhar ponto (se aquele dinheirinho guardado era respeitável).

O pão-durismo é ecológico e solidário. Ele recicla caixas, roupas, móveis, presentes que você não gostou. Ele pega emprestado ao invés de comprar, e empresta ao invés de incentivar que você compre.

O pão-durismo é criativo. Menos itens quer dizer mais combinações inesperadas. Menos cores quer dizer que tudo vai com tudo. O pão-durismo é minimalista e elegante: seu credo é “menos é mais”.

E o pão-durismo é feminista, né? Não torrar dinheiro em cosméticos, acessórios, roupas da moda e salão de beleza agradaria profundamente à Simone de Beauvoir.

Ser pão-duro com o dinheiro não significa ser pão-duro com as idéias, nem com as emoções, nem com o entusiasmo.

Muito antes pelo contrário.