quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O Caso das Caronas

Olha, eu acho que dirigir é uma coisa muito ótima. Tanto que até fiz um tratamento para ansiedade, e uma das razões era a aflição ao volante. Na prática o que aconteceu que, ao invés de perder o medo de dirigir, eu deixei de ligar de ter medo de dirigir, e continuei a pé. (Verdade seja dita: o Maridinho me leva pra tudo quanto é lado, com a maior boa vontade, mas agora ele voltou a trabalhar, e nossos horários nem sempre batem.)

Então eu caminho, pego ônibus, ando de táxi e peço caronas com uma cara de pau medonha. Basta você ter um adesivo da UnB no seu carro para virar minha vítima, como minha vizinha de prédio bem sabe. Ou ser um/a colegas de trabalho motorizado. Desmotorizado também serve: divido táxis na maior alegria.

O interessante é que eu conheço muita gente legal desse jeito. Lembra que as minhas palavras preferidas eram oportunidade, promoção e aumento? Agora tenho mais uma: "pessoas".

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O Caso da Pão-Durice Elegante

Continuo firme e forte na minha decisão que aparência é só superfície e que, portanto, não é a parte mais importante das pessoas. Por outro lado, sou perfeitamente capaz de compreender que há códigos não-verbais culturamente construídos nessa vida, e tento gerenciá-los de modo a chegar a meus objetivos (poder e cobiça, menos a cobiça) sem sacrificar meus ideais (um mundo melhor). Isto é: salto alto não, esmalte não, maquiagem não. Calças e camisas sociais sim, broche na lapela sim (igual a Madeleine Albright!).

Em outras palavras: os melhores amigos da poupançuda que acha que uma roupinha boa e limpinha não ajuda a avançar na carreira, mas pelo menos não atrapalha são 1) as lojas de departamentos, 2) a irmã que é do mesmo tamanho e empresta terninhos novos em folha, porque ela não os está usando, 3) os brechós!

Eu nunca havia encontrado um brechó decente na vida, mas aqui em Brasília tem. Ele parece uma loja de verdade, é bonito, bem-decorado, iluminado, e as peças ficam separadas por estilo e cor. Comprei três camisas muito bonitas por 40 reais cada, e a vantagem é que não tive que cortar a barra de nenhuma. E se alguém quiser saber, não, eu não ligo a mínima de usar roupa que já foi de outra pessoa: até eu deixar de morar com os meus pais sempre rolou um troca-troca medonho entre irmãs, tias e mãe, e ninguém morreu por causa disso, muito antes pelo contrário. Sem falar que quase todo mundo que eu conheço doa roupa usada para os menos favorecidos, e aí? Os menos favorecidos podem usar, mas a bonita não? Menos, né?

* * *

A Tania pediu nos comentários, então aí vai: o brechó se chama Peça Rara (hihihi) e fica na SCLS 307, bloco C, loja 3. Isso quer dizer que ele fica na Asa Sul, entre as superquadras 307 e 308. A loja fica no meio do quarteirão. Eles têm site, mas desconsiderem as fotos de gosto duvidoso: o que tem no brechó mesmo é muito mais legal. Só tem de dar um pouco de sorte, pra ter o que você gosta, e no seu tamanho.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O Caso da Aparência de Poder

Descobri: o que ofusca a minha estagicara, isto é, minha cara de estagiária, é a terceira peça. O casaco. A jaqueta. O blazer. De preferência da mesma cor da calça. Porque, vejam bem, num país tropical, abençoado por deus, terceira peça é coisa de quem está acima dos meros mortais e de coisas desprezíveis como o calor. Alguém aí já viu os cotovelos da rainha da Inglaterra?

Com o Maridinho, o resultado é impressionante. Nunca ninguém achou que ele fosse estagiário, mas você bota o Maridinho num terno e ele vira "otoridade". Já lhe deram parabéns pela conquista na posse de uma amiga juíza, tentaram levá-lo à força para o embarque internacional de primeira classe e, na última festa da empresa, ele foi pegar uma cadeira emprestada em outra mesa e de lá saltaram o presidente e o vice da firma para cumprimentá-lo.

Já eu, de terno e gravata, fico parecendo o Harry Potter. Por isso é que eu não uso gravata. Nessa terra de trouxas ninguém acredita nos meus poderes mágicos, mesmo.

* * *

E então você percebe que a vida é efêmera e todas as glórias, ilusão: nasceu uma espinha na ponta do meu nariz.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O Caso das Ótimas Dicas

Gente, muito obrigada pelas ideias no último post. Vou adotar todas! Menos as saias e os saltos, que eu acho elegantes, mas desconfortáveis e limitadores de movimentos (tenta atravessar a rua correndo com eles, tenta. Ou sentar em cima das pernas, o que eu adoro fazer). Além de perigosos: a Sarah acaba de levar um tombão cinematográfico por conta do salto alto.

No mesmo tema de roupas de trabalho, olhem só que interessante: quando o Maridinho voltou a trabalhar, ele comprou uma calça social, cinco camisas igualmente sociais e pronto, resolvido. Inspirada por ele (vocês sabem, a Kate Moss perdeu o post de ícone de moda e beleza para o Maridinho), voltei na loja em que ele havia comprado camisas bonitas e em conta (a Riachuelo), pronta para adquirir o equivalente "de moça".

Que não encontrei. A única camisa feminina social disponível era, claro, justa, com elastano e ficava mal-enjambrada no corpo, além de custar 70 reais. Enquanto as camisas do Maridinho eram 100% algodão, vinham em bonitas cores e listras, e saíram 30% mais baratas.

Não tive dúvida: marchei para o outro lado da loja, escolhi uma camisa masculina no menor tamanho disponível e comprei.

Tive que cortar um pedaço no comprimento, é verdade. Mas o resultado final foi muito positivo: a camisa é linda, é muito confortável e, apesar das mangas longas, é fresca. Puro algodão, sabe como é.

Recomendo.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O Caso do Novo Posto

Descobri que tenho estagicara, isto é, cara de estagiária. Deve ser porque fui estagiária durante tanto tempo (dez anos na faculdade!) que grudou.

Brincadeira. Acho que é porque sou feliz e sorridente e trato bem todo mundo. O que não é nada de mais. Só que os executivos da empresa andam de cara fechada e não dão mole para os simples mortais.

Não quero nem saber. Me recuso a ser babaca só para mostrar que não estou na base da cadeia alimentar. Aliás, não teria a menor importância acharem que eu sou estagiária se eu não estivesse na comunicação interna e tivesse que lidar com frequência com os tais executivos (que, nem é preciso dizer, não querem conversa com estagiários).

O jeito, então, é usar terninho todo santo dia. Porque salto alto, bolsa de marca e bijoux douradas eu me recuso.

* * *

E aí começa a questã. Homem troca a camisa e a gravata e usa o mesmo terno a semana toda; mulher tem de trocar o terno. Ou não? Então alguém me explique a existência de terninhos vermelho-sangue, azul-fusquinha e rosa-bebê.

Eu tenho dois ternos bonitos e confortáveis: um preto e um cinza. Em tese, eu poderia usar os meus dois terninhos todo dia, só trocando a camisa, não é? Não é ?!?

Preciso de um substituto para gravata urgente.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

O Caso da Aflição

É muito bom ler livros e blogs e artigos e ter espírito crítico e perceber que o mundo não é justo e votar em partidos que eu acho que tentam resolver o problema. Mas, além disso, o que mais que a gente FAZ?

Ajudar as pessoas, dar roupas e objetos, doar dinheiro para organizações é muito bom e eu faço, mas não RESOLVE. Aliás, uma das minhas birras com a igreja católica é tal da caridade, porque alivia uma dificuldade de momento mas incentiva o status quo, a situação como está. E a grande problema É a situação como está.

Aí eu me sento na sala do meu apartamento no plano-piloto da capital e, no meu laptop, vejo textos sobre desigualdade social e concordo plenamente, enquanto tomo sorvete de creme com petit gateau de chocolate. Tem alguma coisa errada aí ou só eu que estou achando?

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O Caso do Segredo do Sucesso

Eu acho que conhecimento (teórico), experiência (prática) e dedicação são essenciais para se dar bem no mundo profissional. Ultimamente, entretanto, ando achando que a diferença entre as pessoas preparadas e bem-sucedidas e as preparadas e não tão bem-sucedidas seja um item que escola nenhuma ensina: cara-de-pau.

Por cara-de-pau entenda-se a prática constante da máxima "perguntar (e sugerir) não ofende". Ou um saudável desrespeito a regras tolas não-escritas (dos quais um bom exemplo é hierarquia, se você não está no exército).

De vez em quando a gente escuta uns nãos e vê umas caretas. Normal. Como dizia o boizinho, o importante é não se deixar abater.

domingo, 31 de outubro de 2010

O Caso do Dia D (de Dilma)

Eu e Maridinho fomos votar cedinho. Vestimos nossas camisas vermelhas, botamos nossos adesivos no peito (manifestação silenciosa pode) e nos mandamos para o colégio eleitoral da turma do voto em trânsito.

Na saída encontramos uma mãe e uma bebê que estavam de vermelho e de adesivo (só a mãe) também. E eu fiquei pensando que, se a Dilma for eleita, pra essa menininha vai ser a coisa mais natural do mundo responder "presidenta!" quando perguntarem a ela o que quer ser quando crescer.

Que orgulho, sô.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O Caso da Fofura

Tem um ditado em inglês que diz que "um tolo e seu dinheiro logo se separam". Segundo essa lógica, eu sou espertíssima, porque eu e meu dinheiro andamos agarradinhos. Nem o fato de morar ao lado da "Rua da Moda" aqui de Brasília (é, tem placa e tudo) me tentou. Até porque, depois que decidi usar só sapatos e roupas confortáveis e me lixar para as tendências, a moda perdeu grande parte do seu encanto pra mim.

Não é que eu não ache as vitrines bonitas. Acho. Mas fico olhando com distanciamento, como se estivesse apreciando uma instalação cubista. Nunca fui consumista (tirando uma rápida fase Becky Bloom) e agora não tenho vontade mesmo de possuir aqueles curiosos objetos de tortura para os pés.

Hoje foi uma exceção: fui com o Maridinho trocar uma camisa dele e achei um par de sapatilhas lilás de couro de verdade por um preço aceitável. E comprei. Sim, eu já disse que sapatilhas são obras do demo e todas mastigam meus tendões, mas acho que os fabricantes de sapatos escutaram a minha dor e decidiram reformular seus conceitos. Essa é macia mesmo, juro.

Além de ser lilás, ela tem laço na frente. E eu estava correndo de peças que não fossem mais ou menos unissex. Mas aí me deu um estalo: se os homens não "podem" usar lilás e laços de fita, eles estão perdendo. Sério. Aliás, aos moços em geral nega-se entrada ao reino da fofura, né?

E o reino da fofura é tão legal.

Alguém aí viu A Família do Futuro (Os Robinsons)? Pois é: Yagoobian, o pérfido vilão, gosta de milkshake e tem um fichário do Meu Querido Pônei.

Um cara que sabe se divertir.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O Caso do Sebinho

Ontem a gente foi ao Sebinho. Pelo nome, imaginei que se tratava de um esquema Edifício Maletta, no qual os sebos são basicamente corredores com prateleiras no meio. Ou seja, em duas horas você sai de lá com a sensação triunfante que viu tudo e descobriu todas as pérolas do lugar.

Ledo (ou lido) engano. O Sebinho é um sebão. Tem vários ambientes, subsolo, restaurante. Seção de livros em inglês, francês, japonês. Vende cd, dvd, mangá, sorvete. É praticamente uma atração turística.

Saí de lá com quatro livros sobre jornalismo, A Insustentável Leveza do Ser e uma dor de cabeça. Xingando as editoras, que não decidem se põem o título na lombada de cima pra baixo ou de baixo pra cima (resultado: torcidas de pescoço intermináveis na frente das estantes). E me perguntando por que diabos eu não fiz faculdade em Brasília e arrumei um emprego de meio horário no Sebinho, poxa.

sábado, 2 de outubro de 2010

O Caso do Feminismo e os Bebês

Vou ser tia pela primeira vez, e estou feliz da vida. A irmã D. está grávida: o pequerrucho chega em dezembro.

A irmã D. sempre achou que ia ter uma menina. Tanto que, quando fez a lista de nomes, só pensou nos femininos.

Entrei na onda e comecei a fazer planos feministas para minha sobrinha. Nada de dar de presente bonecas barbie ou cozinhas cor-de-rosa, ou dizer que ela é uma princesinha (porque os avós, os amigos e o mundo já vão fazer isso o suficiente). Não, eu seria a tia que daria Legos, carrinhos, conjuntos de química e bolas de futebol. Que ia ensiná-la a bater de volta (em legítima defesa) nos coleguinhas ao invés de ir choramingar com a professora. Que ia dizer que ser física, astronauta ou presidenta é muito mais legal que ser modelo.

Mas a irmã D. e eu esquecemos de combinar com o feto, e ela vai ter um menino.

Fiquei meio no ar. Não sei se sei lidar com meninos: lá em casa somos três moças, e os primos são muito mais novos. Antes dos sete anos, eu não via diferença entre coleguinhas e coleguinhos (inclusive aplicando mordidas quando achava necessário); depois disso, fui para um colégio conservador, que era misto mas que botava o nome dos meninos todos no início da chamada e não incentivava muito a interação.

Em suma, eis meu problema: como é que se cria um sobrinho feminista?

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O Caso dos Dotes Culinários II

Eu disse que o Maridinho não tinha dotes culinários? Vou me retratar. Hoje ele decidiu fazer o almoço: arroz e strogonoff. Ficou uma delícia!

Verdade seja dita, ele sempre teve mais intimidade com a cozinha que eu. Ele faz sanduíches elaborados, pão frito, ovos mexidos, enquanto eu fico com o brigadeiro de microondas e a calda de capuccino mesmo.

O Maridinho está esperando ser nomeado no Ministério do Planejamento. Pode sair a qualquer momento. Mas, se ele continuar fazendo almoços divinos, vou ter de ligar lá e pedir para atrasarem o processo, hohoho.

domingo, 26 de setembro de 2010

O Caso da Ambição Atual

Como vocês sabem, eu sou uma pessoa de ambições. E elas mudam, o tempo todo. Ultimamente meu objetivo tem sido entender o mundo. Bem, na verdade minha ambição é consertar o mundo, para que todos os seres humanos tenham paz e saneamento básico, mas antes de chegar lá tenho de descobrir direitinho como ele funciona.

Hoje entreguei na UnB o pedido para cursar, como aluna especial, uma disciplina da pós sobre economia, política e sociedade brasileiras. Em tese são 15 vagas, mas na secretaria me disseram que, se mais do que 15 pessoas se inscreverem, eles aumentam o número de vagas, pronto. Então estou otimista.

E doida pra voltar a estudar, porque eu adoro uma universidade.

O Caso dos Dotes Culinários

As habilidades domésticas minhas e do Maridinho são bem fracas. Minha mãe é prendadíssima (lava, cozinha e costura), mas nunca tive a menor vontade de aprender. Talvez porque ela não tivesse a menor paciência pra ensinar (e considerando que ela era professora universitária com dedicação exclusiva, eu até dou um desconto); talvez porque meu pai também trabalhava e não levantava uma palha em casa (e aí eu ficava no time dele, claro).

Antes de eu me casar, minha mãe me disse: "Coitado do Maridinho! Como é que você vai fazer? Você não sabe fazer nada em casa!" Ao que eu respondi, muito mau-humorada: "Eu sou uma intelectual, mãe! Eu vou trabalhar e pagar alguém pra fazer as tarefas do lar." (Na época o fato de eu delegar a rotina doméstica a salário de fome para outra mulher não me parecia um problema.) Observem que o fato do Maridinho também não saber "fazer nada em casa" não era em absoluto uma questão para minha mãe.

Casamos, arrumamos duas ótimas diaristas, uma depois da outra. (Tentei convencer as duas a terem carteira assinada, sem sucesso. De qualquer jeito, a gente pagava feriados, férias e décimo-terceiro informais, e a última recebia pagamento bem acima do acima do mercado.) De vez em quando precisávamos resolver ou consertar alguma coisa, e aí a gente olhava na internet ou terceirizava, isto é, contratava alguém pra fazer. E tudo funcionava lindamente.

Aí viemos pra Brasília. Alugamos um apartamento com cozinha americana. O Maridinho quis comprar um forno elétrico grande para substituir o pequetito que deixamos para trás. E o ambiente da cozinha é tão legal e prático, e os supermercados de Bsb têm tantas opções de ingredientes, que os dotes culinários antes desconhecidos despertaram.

Hoje fizemos nosso primeiro almoço: bifes de picanha ao forno e batatinhas com azeite e parmesão. Ficou uma delícia. Eu, que não tinha experiência alguma na cozinha, achei o máximo.

E o melhor: não precisamos ligar para mãe nenhuma. Catamos as receitas na internet, hohoho.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O Caso da Beleza

Eu sou uma pessoa visual. Cores, formas e harmonias me interessam profundamente. E tenho respeito e admiração pela beleza.

Mas um dia comecei a questionar a máxima "As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental". Porque ela se refere especificamente à beleza feminina. O criador da frase, Vinícius de Moraes, era um cara feio: gordo, careca, enrugado. Ainda assim, ele queria que as mulheres fossem belas, que lhe dessem prazer visual.

Pô, sacanagem, né? As moças ficam lá fazendo dieta, unha, cabelo e maquiagem. E o Vivi, o que faz? Faz poesia.

Prefiro fazer poesia.

* * *

Ok, não tenho talento para poesia. O que eu quero dizer é que o dito do "Poetinha" (interpretem o diminutivo como quiserem), que virou lugar comum, coloca as mulheres na posição de objeto, valorizado pela aparência e só. O problema (um deles) é que a beleza física passa rápido, né, gente? Fica no máximo registrada em um quadro ou uma foto. E quem fez o quadro, ou a foto, é que vai pra posteridade.

* * *

Como eu dizia, eu sou defensora da beleza. Mas, poxa, existe beleza em tantos lugares. Fico pensando: se as mulheres fossem liberadas dos cuidados diários com cutículas, pelos e pontas duplas, será que não teríamos (mais) um monte de cientistas, artistas e pensadoras por aí?

* * *

Sim, eu entendo que a maneira que a pessoa se apresenta é um jeito de se expressar. Mas, cá pra nós, o guarda-roupa masculino é bem mais limitado, né? E nem por isso vejo os moços reclamando que tem dificuldade em dizer a que vieram.

* * *

Ok, leitora, eu entendo: você é linda, fashion, maquiada, inteligentíssima e bem-sucedida. Então que tal, da próxima vez que você comprar um batom Chanel por mais de cem reais, doar a mesma quantia para uma fundação que defenda os direitos das mulheres ou para uma candidata cuja plataforma lhe agrade? Aí você vai estar fazendo do mundo um lugar mais bonito E melhor.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O Caso do Túnel do Eixão

Como minha bússola interna veio quebrada, o Maridinho está me ensinando a chegar nos lugares. Já que a gente gosta de caminhar no fim da tarde, colocamos tênis e saímos serelepes por aí, fazendo reconhecimento de terreno e um pouco de exercício ao mesmo tempo.

Para passar de um lado de cada asa para outro, é necessário atravessar três pistas largas: dois eixinhos e um eixão. São vias de alta velocidade, sem sinais de trânsito nem faixa para pedestre (já que o objetivo é permitir que o tráfego flua livremente). Quem quiser cruzar passa por baixo das pistas, em uns túneis semi-subterrâneos.

Hoje passei pelo meu primeiro. Ah, o horror. É escuro, o cheiro de xixi é horrível, e a limpeza passa longe. Não estou sendo fresquinha: dos grafites na parede eu gostei. Mas fiquei chocada com a falta de conservação da passagem. E olha que não éramos os únicos por ali: eram sete da noite e o movimento era razoável (ou seja, não fiquei com medo, só com o nariz tampado).

Para voltar pra casa, o Maridinho apostou que dava para atravessar pelo metrô. Funcionou, e a estação era nova, limpa e linda. E tinha muito mais gente usar para chegar no outro lado, claro. Mas continuei indignada: pô, não dá pra abandonar os túneis.

Já estou investigando na internet com que órgão vou reclamar.

sábado, 18 de setembro de 2010

O Caso dos Pelos (Mais Um)

(Antes de mais nada: não, depilação não é sinônimo de higiene. Banho é sinônimo de higiene. Os namorados e maridos não tiram os pelos da perna, tiram? E olha que os pelos masculinos costumam ser mais grossos e cerrados do que os femininos. Como não vejo as moças com nojinho dos rapazes, dispenso chiliques nos comentários, se me fazem favor.)

Então: lá em Fabri estava fazendo um frio danado e eu estava cultivando alegremente os pelos da perna. Aqui é um calor sem noção e infelizmente eu não evoluí o suficiente para desafiar as convenções sociais nesse ponto específico.

Bati em um salão arrumadinho perto de casa. Preço pra depilar metade da perninha: mais que o dobro do que lá no interior (é Brasília mostrando os dentes). Sinto muito, não vai rolar.

Aí fui pra internet em busca de alternativas. Pois bem: existem ceras depilatórias auto-aplicativas, aparelhinhos que arrancam os pelos pela raiz, e depilações duradouras (laser ou luz pulsada). Fiquei até tentada pela última opção, porque descobri uma rede aqui na cidade a preços módicos, mas acho que, por questões ideológicas, não quero remover meus pelos para sempre. E se eu ainda estiver viva quando a igualdade feminina realmente chegar? Eu vou ser a bobona de canelas peladas? Não, obrigada.

Quebrei um pouco a cabeça, mas uma das conclusões a que eu cheguei sobre o assunto "aparência feminina" é que não quero perder tempo com isso. Em outras palavras, fazer uma lista no Excel sobre prós e contras, enquanto o Maridinho vê seriados na sala, é justamente o que pretendo evitar. Decidi comprar o extrator de pelos mecânico (provavelmente inventado pela Santa Inquisição na Idade Média) e pronto.

Agora vou torcer pra demorar bastante a chegar.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O Caso da Maquiagem Tipo Lápis de Cor

Umas semanas atrás eu estava em BH, e a irmã I. ia a um casamento e perguntou se as minhas habilidades maquiagísticas ainda estavam funcionando.

A irmã I. é uma das pessoas menos frescas que eu conheço e também não acha que ser chamada "feminista" seja xingamento. Então eu disse que fazia a maquiagem dela se fosse pra ser divertido. Ou seja, não "veja como ressalto minhas características sexuais secundárias para atrair você", mas "tenho lápis de cor e uso no rosto. Ha."

Ok, não foi lápis de cor de verdade, mas foi zero de base ou corretivo, sombra azul forte e plumas idem no canto de fora dos olhos. Muito legal.

E tão legal quanto foi minha mãe dizendo para a irmã I. que o vestido que ela ia usar no casamento estava fora de moda. O Maridinho estava passando na hora. E nem piscou. Só rebateu: "Moda é para os fracos".

Juro que não fui eu que ensinei. Só vou adotar.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O Caso da (Falta de) Tevê a Cabo

Lá em Fabri a gente tinha tevê a cabo, e não assistia à tevê aberta, ponto. Porque eu não gosto de novelas, nem de filme dublado, e notícias a gente recolhe na internet, oras. Mas ultimamente até tevê a cabo a gente estava vendo pouco: eu porque larguei os programas de moda/maquiagem/celebridades, e o Maridinho só assistia aos jogos do Brasileirão mesmo.

Vindo pra cá, na hora de fechar o pacote internet/telefone/tevê, tive a idéia de dispensar a televisão paga. Primeiro porque o aluguel está saindo mais caro do que eu planejava, então gosto da estratégia de cortar gastos em outras áreas; segundo porque a tevê tem um poder meio hipnótico, e é muito fácil ligar e ficar na frente dela. Ainda que seja pra ver programas de história e ciência, nada substitui a vida - ou os livros bons. E agora que estamos morando em uma cidade cheia de opções, bom é ter tempo livre pra aproveitá-las.

Pode ser que a gente mude de idéia lá na frente. Mas sei não. Aqui tem cinema bom, locadora boa, e o irmão do Maridinho volta e meia compra ou ganha (inclusive do próprio Maridinho!) coleções completas de seriados, ótimas pra pegar emprestadas. E aí a vantagem é que a gente faz a própria programação, ao invés de ficar dependendo dos horários e vontades dos canais a cabo.


segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O Caso dos Chinelinhos em Brasília

Aqui tem feito um calorão, e tudo é espaçoso e longe. Então eu vejo na rua um monte de gente de sapatilhas, sandálias e havaianas.

Adotei na maior alegria. Minas Gerais é um estado esquisito: nem lá em Fabri, interior, lugar de calor equivalente, eu via chinelinhos a passeio. Aqui Maridinho e eu usando sem problemas, junto com a galera.

É claro que, quando eu voltar a trabalhar, o ambiente deve ser diferente. Mas tenho notado muito menos saltos do que em BH, por exemplo. Talvez nos lugares "da moda" o povo ande mais enfeitado, mas sei não. Em Belô você vai a qualquer barzinho e tem as moças de cabelão com luzes, óculos escuros importados e unhonas pintadas (e os moços escovadinhos). Aqui fui ao cinema do Shopping Iguatemi (onde fica uma loja Louis Vuitton, que, como dizia minha mãe, é um acinte em um país com tanta desigualdade social) e estava todo mundo em trajes "civis".

Tô achando ótimo.

domingo, 12 de setembro de 2010

O Caso dos Instalados e Felizes

A mudança chegou na sexta-feira. No sábado dormimos na casinha nova pela primeira vez. E hoje estreiamos a banheira de hidromassagem (aprovadíssima!).

Tá faltando pouca coisa: filtro (porque esse negócio de ficar comprando água mineral em uma cidade em que o tratamento de água é ótimo é para pessoas não-econômicas e não ecológicas), cortina (aproveitei quase todas da casa antiga, mas a do quarto tive de encomendar) e mesa (a nossa era grande e quadrada: linda, mas pouquíssimo prática. Aproveitamos a mudança pra passá-la adiante).

Aviso aos navegantes: a fita adesiva dupla-face é a maior amiga dos donos-de-casa. O modelo grossinho da 3M arranca até o reboco da parede se você não tomar cuidado pra tirar. Aqui instalamos uma tapeçaria na parede e blecaute nas janelas do quarto de casal (enquanto a cortina não vem). Nos próximos dias entram na dança várias gravuras, a cabeceira da cama (que é uma foto-paisagem enorme), quadros de porte modesto, e até um puxador de porta (vamos ver se a fita é potente mesmo).

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O Caso do Novo Lar

Depois de uma certa quantidade de choro e ranger de dentes (a história é longa e envolve de chaves perdidas à imobiliária não ter os dados da proprietária), fechamos o contrato de aluguel e tomamos posse da casinha mais linda do mundo (ou pelo menos da superquadra).

O apto tá todo reformado: praticamente jogaram as paredes no chão e fizeram de novo. A cozinha virou americana, o dce sumiu, aos quartos se juntou um escritório e apareceu uma suíte. No fim das contas, temos três quartos e dois banheiros novinhos e cheios de armários e nenhum espaço nos fundos para badulaques (o que é ótimo, porque aí eu não fico juntando velharias).

Pra completar, é vazado, de canto e nascente (os brasilienses vão entender).

Só tem um defeitinho: é mais caro do que eu queria pagar. O Maridinho teve de fazer uma planilha completíssima com simulações de entradas e despesas para me convencer de que o aluguel cabia no nosso orçamento.

Mas confesso: depois da terceira área de serviço destruída e do segundo banheiro azul-turquesa, eu já estava a meio caminho do convencimento.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O Caso da Primeira Semana em Brasília

Estamos correndo o sério risco de nos apaixonarmos por Brasília.

As superquadras são sossegadas e cheias de verde. O sol é intenso, mas venta que é uma beleza. Maridinho já sabe chegar a quase todo lugar (e até eu, que sou perdida, tenho uma vaga idéia de onde estou andando). E o trânsito... que trânsito, gente?

Já fomos a um bistrô francês e a um cinema bom (pagando meia com o cartão de crédito). Já almoçamos no Aspargus (R$39 o quilo) e no Kiko's (R$13). Já experimentamos os mini-bolos da Casa Doce e o pãozinho francês ótimo do supermercado da quadra.

E quem disse que os brasilienses não são simpáticos? Em todo lado encontrei gente sorridente e educada. E mesmo eu sendo ligeiramente anti-social, começamos a fazer amigos por aqui (com troca de números de celular e tudo).

Ah, é, tem brasilienses não-simpáticos, sim. Eles estão todos nas imobiliárias. Escolhemos um apartamento no final do nosso primeiro dia aqui (segunda-feira passada); desde então estamos tentando fechar o contrato, mas tá um parto, a fórceps. No sábado apelamos para a cesariana. Vamos ver se nasce amanhã.

Se nascer, vamos pedir Brasília pra casar com a gente.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O Caso da Caça ao Apartamento

A programação desse blogue será interrompida para uma sessão de mimimi. Logo após retornaremos com nossa programação normal.

Foi assim: selecionamos 20 apartamentos pelo www.wimoveis.com.br e fizemos uma linda ficha para cada um deles (recomendo). Aí começamos a ligar nas imobiliárias. De cara, uns cinco já estavam alugados. Então começamos o calvário das imobiliárias, iniciando pela que tinha mais imóveis disponíveis (a maior parte só tem um).

As imobiliárias de Brasília não se estabelecem; escondem-se. A sorte é que a gente está com um GPS e o Maridinho é uma bússola humana. Ainda assim, não é sempre que tem lugar para estacionar. E tem de pegar a chave, ir por conta própria no apartamento e depois devolver a chave, e isso achando bom que ela chave está. E é diferente de Fabri. Lá você deixava o carro praticamente na porta e corria na imobiliária em segundos. Em Brasília, não: é tudo amplo, longe, em prédios comerciais e blocos de lojas, com elevador e escada rolante. "Rapidinho" tem outro significado aqui. E o sol, gente, é de matar. Não tem uma nuvem no céu.

E tem os apês do plano piloto. Que são de sentar e chorar. Cujos prédios foram construídos na década de sessenta, junto com a cidade, e podem não-estar-reformados ou reformados-pela-metade ou reformados-nos-anos-oitenta. Tem os minúsculos de dois quartos e um banheiro, pelos quais eu tinha muita simpatia, por motivos econômicos e ecológicos, mas dos quais tive que desistir quando percebi que nossas camas não caberiam neles (sério); tem os de três quartos com suíte, mais caros e mais amplos, com áreas de serviços horrorosas e banheiros assustadores. Os primeiros custam mais que o dobro do aluguel que eu pagava em Fabri; os segundos, três e meio.

Então eu sugiro, para quem quiser procurar apartamento em Brasília: um ótimo mapa; protetor solar; garrafinha d'água; fichas para fazer anotações sobre os apês, porque lá pelo terceiro ou quarto você já misturou tudo e não sabe mais qual tem o banheiro azul-turquesa e qual tem a cozinha destruída; a paciência, muita paciência.

Além de um bom dinheirinho, claro, porque os aluguéis estão pela hora da morte.

domingo, 29 de agosto de 2010

O Caso do Início de uma Era

Hoje acordamos cedinho em BH e nos mandamos de carro pra Brasília. A viagem durou oito horas e meia (são 740 quilômetros) e nós chegamos bem cansados, principalmente o Maridinho, que dirigiu (enquanto eu fazia anúncios do nosso expresso terrestre em diversas línguas e oferecia quitutes à nossa tripulação de dois).

Viemos pra ficar. O apartamento em Fabri foi devolvido, a mudança está em um guarda-móveis, e amanhã cedinho começamos a caça ao tesouro, isto é, ao novo lar.

Estamos animadíssimos. As corretoras que nos aguardem.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O Caso das Regras

De vez em quando eu dou uma pipocada nos blogues de moda e maquiagem, que antes me agradavam tanto, para ver se eu estou perdendo alguma coisa. Conclusão: acho que não estou, não. E eventualmente eles são divertidos, juro. É só não levá-los muito a sério.

 
Como dizem, a grande vantagem do capitalismo é que você não é forçado a nada. Tem a pressão psicológica, é claro, mas é sempre possível optar por dar um passinho atrás e dizer não, obrigada. No meu caso, eu parei de ler revistas femininas. E agora que não sei mais quais são os lançamentos, as tendências e os tem-de-ter, isso não me preocupa mais, nem um pouquinho.
 
Ah, mas tem uma coisinha que me incomodou nos blogues, sim: os como-usar, os certo-e-errado. Tem regras que fazem sentido, como circular à direita nas estradas. E tem outras que são pura chatice. E daí se a pessoa quiser usar oncinha da cabeça aos pés? Ou sair igual a um soldadinho de chumbo? Ou usar batom azul? (Todo mundo sempre achou um horror, mas parece que agora é "tendencinha".) Fica um monte de gente dizendo que você pode usar sua aparência para se expressar, mas ai da coitadinha que sair fora das regras. Vai aparecer na lista das mais mal-vestidas ou ser indicada para um programa de antes e depois.
 
Eu sei, é o mercado. Se todo mundo puder se vestir do jeito que quiser, e não ligar a mínima para as novidades da estação, como convencer as pessoas a comprar mais um sapato/mais uma bolsa/mais uma roupa/mais um perfume? O sapato/bolsa/roupa/perfume teria de ser realmente espetacular/útil/confortável. E isso daria muito trabalho.

domingo, 22 de agosto de 2010

O Caso da Sapatada

Para meu completo horror, descobri que tenho mais de vinte pares de sapatos. E olha que passei adiante vários nos últimos tempos, e resisti a comprar outros tantos.

O problema é a variedade. Tem os de festa, os de trabalho, os de viagem, as sandálias, os tênis, as botas. Tem os de salto, que tenho me recusado a usar, mas que também não vou jogar fora, porque e se eu precisar deles depois? (Para fazer uma instalação pós-moderna ou enfiar no olho de um marciano, por exemplo. Vai saber. Eu não jogo nem pedaço de barbante fora, gente).

Mas não há de ser nada. Com o tempo vou me livrando dos sapatos que eu não uso, e a quantidade vai diminuindo.

Porque agora eu tenho duas regras: um, só entra um sapato novo no meu guarda-roupa se ele for confortável; dois, só entra um sapato novo no meu guarda-roupa se um antigo sair.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O Caso das Unhas

Olha, eu acho que unhas feitas são lindas. Mas também acho que não faz sentido elas serem uma exigência em entrevistas de emprego ou contato com o público (para as mulheres, claro). Porque unhas não influem em nada na competência ou na eficácia da profissional.

 
O que não quer dizer que eu defenda as unhas compridas e sujas. Higiene pessoal, né? Se para os moços unhas curtinhas e limpas está bom, acho que para as moças está também.
 
Eu entendo que a gente esteja acostumado a ver, na televisão e nas revistas, representações de mulheres de sucesso com unhonas esmaltadas (de preferência em cores escuras, que dão mais trabalho ainda, já que qualquer lasquinha aparece). Mas, puxa, é uma daquelas coisas que não fazem sentido. É mais uma das exigências em relação à aparência das mulheres.
 
Então é isso: eu não faço as unhas, e também não ligo a mínima se fazem ou não.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O Caso das Partidas

Quando terminei o segundo grau e as faculdades, me lembro de ter visto colegas chorando e se descabelando no baile. Eu não derramei uma mísera lágrima. Imaginei que eles tinham  aproveitado essas épocas muito mais que eu, porque afinal estavam se rasgando todos pelo fim de uma era. 

 
Agora estou desconfiando que a questão é outra. Vou deixar a cidade depois de seis anos felicíssimos e produtivos. Ninguém do trabalho se adaptou tão bem. Aprendi muito, viajei muito, casamentei (tem algum verbo equivalente a namorar depois que a gente casa?) muito. Morei em um apartamento ótimo, tive amigos ótimos e um ambiente de trabalho ótimo. Daqui a pouco vamos embora e... vocês acham que estou choramingando pelos cantos? Eu não!
 

Acho que a questão é que eu não tenho coração mesmo.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O Caso do Dilema Habitacional 3

Usamos todos os nossos contatos em Brasília, fizemos um monte de interurbanos e passamos horas deduzindo o tamanho do apartamento a partir do número de lajotas e azulejos. No fim da história, consegui que uma prima amigona prometesse dar dar uma olhada no apêzinho que eu estou namorando. Se ela aprovasse, a gente pagava um pedaço do aluguel para reservar até o fim do mês. Belezinha.

Aí a corretora manda e-mail avisando que apareceu um interessado por lá e que vai fechar com ele. Fiquei com a nítida impressão que ela esteve me enrolando por causa desse interessado. Pedi várias vezes os dados da conta bancária para fazer a reserva (o Maridinho queria depositar imediatamente) e ela não deu.

Mas ó, nem fiquei chateada. Escolher entre apartamentos variados não é bem um problema, né? É mais uma solução. Pode dar um trabalhinho e envolver a contagem de muitos azulejos em fotos de baixa definição, mas problema é não ter onde morar.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O Caso do Dilema Habitacional 2

Esqueci de falar no último post: a minha defesa do apartamento pequetito não é simplesmente uma questão de poupancismo. Trata-se de toda uma concepção de vida (hoho). É que ultimamente tenho pensado muito na questão do consumo desnecessário.

 

Um apê maior significa significa mais conforto, mas também mais móveis e mais espaço para limpar, conservar e decorar. E será que a diferença de conforto é tanta assim? Eu e o Maridinho somos só dois. Não temos filhos nem animais de estimação. Se a gente quiser ficar sozinho para ler ou emburrar, dois quartos resolvem o problema.

 

Com poucos armários, não vou ficar acumulando objetos. Pensarei dez vezes antes de comprar itens novos (e olha que eu já penso nove). Se os móveis do apartamento atual não couberem no apartamento novo, gente precisando é o que não falta.

 

E tem outra: estou confiando que em Brasília vamos ficar menos caseiros. Porque lá tem  parque, biblioteca, cinema, restaurante, show. Um novo e maravilhoso mundo fora de casa! Acho que a irmã I. nem vai ter mais razão para nos chamar de camisolões.  

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O Caso do Dilema Habitacional

(Ah, não morri. Estou tomando anti-alérgico, anti-inflamatório e antibiótico, e estou quase jóia.)

 
Eu e Maridinho estamos namorando apartamentos em Brasília pela internet. Já decidimos que queremos morar no começo das asas, para ficar perto do local de trabalho. Depois de muito olhar, percebemos que nós nos dividimos em dois times: eu quero um apartamento de dois quartos, simplezinho, que custa duas vezes o que pagamos aqui. O Maridinho quer um apartamento de três quartos, arrumado, que custa três vezes o que pagamos aqui.
 
Eu argumento que nosso apartamento atual, de cento e poucos metros quadrados, é grande pra nós. Ele argumenta que apartamento pequeno como o que eu quero não tem armários suficientes para guardar os nossos pertences.
 
Eu acho que pagar menos é melhor. Ele acha que vai começar a trabalhar em setembro e a nossa renda vai aumentar.
 
O Maridinho não se importa muito com acabamentos: ele quer é espaço. Eu não me importo muito com espaço: eu quero é economia. Então, se a gente encontrasse um apartamento de três quartos, simplezinho, que custasse duas vezes e meio o que pagamos aqui, estaríamos os dois satisfeitos.
 
Mas é claro que não existe, né?  

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O Caso da Virose

Dodói há 48 horas.

Garganta dói, corpo dói, engolir dói, tossir dói.

Emburrada, mal-humorada, cansada e descabelada.

Tomando três remédios diferentes e lavando as vias respiratórias com soro fisiológico.

E sabe aquela canção do Balão Mágico "Ai, meu nariz (ele parece muito mais um chafariz)"?

Música-tema.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O Caso do Substituto

Eu adorava maquiagem. Adorava mesmo. E gostava de moda também. Só que comecei a achar que maquiagem e moda, embora neutros em sua existência, estavam sendo usados para reforçar a preocupação do mundo com a aparência da mulher, com resultados adversos para ela (e para mim). Aí abri mão deles.

 
Mas sou uma pessoinha visual. Gosto de cores, formas e texturas. E estou aqui matutando como é que eu posso usar esse gosto e o prazer que ele gera quando exercitado de uma maneira diferente, produtiva e não necessariamente ligada ao consumo.
 
Acho que vou desenterrar meus lápis de cor.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O Caso do Chocolatismo

Minha paixão pelo chocolate se perde no tempo. Nem sei quando provei pela primeira vez, mas deve ter sido bem novinha, já que brigadeiro nunca faltou nas festinhas lá de casa. Fora isso, minha mãe nunca achou que doce era coisa de todo dia. O que só serviu, é claro, para aumentar a atração do chocolate.
 
Maridinho me conquistou com muito carinho... e chocolate. Em quase todos os encontros, ele tinha uma barra ou uma caixa na manga. E não achava que chocolate devia ser consumido em rações escalonadas, não. Ah, que  alegria.
 
Para mim, chocolate funciona em momentos de tristeza, em momentos de alegria, quando estou doente (ajuda a recuperar as forças!), acompanhando um livro ou um filme, em viagens, no trabalho, de noite ou de dia.
 
Hoje eu como chocolate quase diariamente. Mas pouquinho, né? Não é um tablete de cada vez (infelizmente. Chocolate tem um defeito: depois das primeiras 100 gramas, ele perde um pouco a graça). Minha saúde é ótima e meu peso também.
 
Recomendo.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O Caso do Apartamento em Brasília, Segunda Parte

Fiquei torcendo para uma coisa muito boa acontecer com o meu rival de apartamento, mas no fim das contas ele não tinha é fiador. Então em tese o apêzinho simpático ficou disponível (pelo menos por algumas horas), mas Maridinho e eu caímos em nós e percebemos que estávamos num desespero injustificado pra arrumar lugar pra morar em Brasília. E que mandar amigos e parentes olharem apartamentos pra gente e tirarem medidas não é mesma coisa de irmos pessoalmente.

 
Então decidimos respirar fundo e segurar a onda. Quando o chefe me liberar aqui, o que não deve demorar muito, a gente pega o carro e vai pra Capital. E visita os apartamentos e conhece as quadras e analisa o trânsito com toda calma do mundo.
 
E se quando chegarmos lá todas as opções legais tiverem sido alugadas, tô nem aí. Me contaram que existe uma coisa chamada tinta para azulejos.
 

Não restará pedra sobre pedra. Ou banheiro amarelo sobre cozinha florida.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

O Caso do Apartamento em Brasília, Primeira Parte

Eu estava conformada com os azulejos decorados de Brasília, juro. Aí apareceu um apartamentinho bem-localizado com banheiro e cozinha abençoadamente livres de flores e cores. Fiquei feliz da vida. Até comecei a acionar meus contatos na capital para que alguém fosse lá dar uma olhada. Mas ontem liguei na imobiliária e... uma pessoa tinha acabado de entrar com os papéis para fechar o contrato.
 
O resultado é que eu vou passar o fim-de-semana mentalizando pra alguma coisa acontecer com essa pessoa. Tipo ser chamada em concurso excelente em outro estado, receber uma oferta de emprego em Paris, herdar uma casa linda em outra cidade, ou descobrir que finalmente está grávida e vai precisar de um apartamento maior.
 
Dedos cruzados, ó.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O Caso dos Cabelos de Prata

Mais um bonito fio platinado apareceu, dessa vez no alto da cabeça. O legal é que esses fios são meio espetados, o que quer dizer que eventualmente me livrarei da minha cabeleira lambida original e finalmente terei um pouco de volume.

 
Estou até pensando em deixar o cabelo crescer para mostrar ao mundo sua beleza. Sério. Se quando as pessoas envelhecessem os fios ficassem, sei lá, azuis, ninguém ia ter preconceito com os cabelos brancos. Com certeza ia ter muita gente fazendo luzes prateadas no salão.
 
É tudo uma questão de nome, gente. Se cabelo louro fosse chamado de amarelo, e o nome das tinturas não fosse "champanhe" e "mel", mas "vinagre" e "gema de ovo", ou "placa bacteriana" e "hepatite", o glamour ia ser muito menor, garanto.
 
O meu cabelo é castanho-escuro e acho muito legal ter fios de cores diferentes. Já paguei vários dígitos a cabelereiros para conseguir mechas "manteiga rançosa" e "cerveja passada". Agora a natureza quer me dar lindos reflexos da cor do luar. E de graça! Vê lá se eu vou passar tinta em cima. 

O Caso do Aviso

A irmã I. me contou que eu posso fazer postagens por e-mail. É muito prático e eu vou adotar. Isso significa que não visitarei o blogue com tanta freqüência e posts novos podem surgir antes das respostas aos comentários dos posts antigos.
 

(Só pra vocês não acharem que sou uma esnobe horrível que não responde aos comentários. Eu sou uma esnobe horrível, mas respondo aos comentários.)

 

terça-feira, 27 de julho de 2010

O Caso do Corpo Útil

Sempre fui péssima em esportes. Mas ninguém se preocupava com isso, porque, afinal, eu era uma criança magrela. O povo queria era que eu comesse mais e me agitasse menos.


Minha preocupação com o corpo começou lendo Capricho e continuou por meio da revista Cláudia e da revista Nova. Elas queriam que eu tivesse uma pele lisa e uniforme e nada de gorduras localizadas. Como alcançar o ideal? Fazendo tratamentos estéticos e usando produtos de beleza, claro (olá, consumo!). Quando aparecia alguma indicação de atividade física, o objetivo era só perder peso.


Há três anos anos achei que não estava tão magra quanto habitualmente e acompanhei o Maridinho em uma dieta. Perdi cinco quilos, o equivalente a quase 10% do meu peso. Não fez diferença alguma em minha vida, a não ser na satisfação de comprar roupas tamanho 36. E isso lá é conquista que faça alguém se orgulhar? Fala sério. Não é como se eu tivesse perdido peso por motivos de saúde. Foi pura vaidade.


Enquanto isso, continuei descoordenada, fraquinha, sem fôlego e sem consciência corporal. Mas isso não importa, porque afinal de contas eu sou magra, né?


Pois é, cansei. Eu não quero mais um corpo magro, eu quero um corpo útil. Que tenha força e coordenação, que consiga carregar pesos grande não fique batendo em quinas por aí. Que, em caso de necessidade, consiga me defender.


Ou, no pior dos casos, sair correndo.


quinta-feira, 22 de julho de 2010

O Caso da Riqueza

Eu ando me sentindo muito rica e privilegiada ultimamente. E nem tive aumento ou recebi herança: é porque comecei a estudar um pouco de história e a me interessar pelo mundo que vai além do meu umbigo e percebi que minhas condições de vida são superiores a uma fatia gigante da população. Brasileira, porque mundial, então, nem se fala: tem guerras civis, conflitos étnicos e bolsões de miséria pelo planeta, enquanto eu fico aqui bem quentinha na minha casa segura e meu salário regular.

A primeira consequência dessa percepção é que eu não reclamo mais de quase nada. Porque, pensando bem, a maior parte dos meus "problemas" é ridícula. Achar ruim os azulejos coloridos das cozinhas dos apês em Brasília? Fala sério, né.

A segunda consequência é pensar o que eu posso fazer para mudar as coisas. Ajudar os outros é ótimo, mas não resolve. Dei outro aumento pra minha faxineira, dessa vez de 50%, mas olha só, ela teve aumento porque eu quis. As pessoas não deviam precisar depender da boa-vontade alheia para melhorar um pouquinho de condição. Eu não precisei: estudei em escola boa, tive apoio dos meus pais, fiz faculdade pública e arrumei um emprego bom.

Então a primeira coisa que eu vou fazer é votar em candidatos de esquerda, que se preocupam com o social e a distribuição de renda. Porque, no Brasil, ela está concentradíssima, não tenham a menor dúvida.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

O Caso do Bagulhismo

Eu não sei se é porque, quando eu era pequena, tinha de dividir tudo com a irmã D.; ou se é porque minha mãe adota o lema “quem guarda tem”. Só sei é que sempre fui adepta do bagulhismo radical, isto é, da capacidade de nunca jogar nada fora, e ainda requisitar o que os outros querem dar fim.

Isso é passado. Depois que arrumei um maridinho minimalista, fui percebendo que não precisava guardar todas as caixas vazias dos presentes de casamento (eu me agarrei a elas durante umas boas semanas), nem todas as revistas que eu compro, nem todos os livros que ganho. O que não quer dizer que virei uma pessoa totalmente desprendida – a roupas, como já contei, sou mais apegada -, mas melhorei bastante. Juro.

Mesmo assim, os preparativos da mudança estão sendo uma prova de fogo. Se dependesse do Maridinho, ele ia só com a roupa do corpo, o computador e a televisão. Já eu fico tentando avaliar se, na nossa nova vida, vamos precisar justamente naquele negocinho que, aqui, passamos seis meses sem usar.

Maridinho me convenceu facilmente a doar a bicicleta ergométrica e pesinhos e caneleiras do tempo do onça, mas fico dividida quanto aos itens de cozinha. Tudo bem que as nossas habilidades culinárias atuais se restringem a brigadeiro, ovo mexido e sanduíche, mas vai que em Brasília viramos gourmets? Lá tem um monte de lugares que vendem ingredientes diferentes e interessantes, oras.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O Caso dos Conselhos

Eu tenho não só a petulância de achar que sei o que é melhor para a vida das pessoas, como também o mau hábito de contar para elas. Não é que elas peçam conselhos, não: eu é que viro na lata e falo "ó, se você fizer assim é melhor". Ultimamente tenho amaciado minhas preleções com introduções do tipo "ah, mas você já pensou nisso e naquilo?". Mas não desisto fácil: se a pessoa disser "já", eu continuo empilhando razões para convencê-la do meu ponto de vista.

Surpreendentemente, até agora ninguém me bateu. Talvez porque percebam que as minhas intenções são puras. Talvez porque achem mais fácil fingir que me dão razão e encerrar a conversa.

Em minha defesa, adianto que meus argumentos são geralmente racionais, lógicos, econômicos e pacifistas. Ainda assim, quero perder essa mania. É arrogância achar que sei mais do que cada um. Tenho de aprender a respeitar a autonomia das pessoas (argh!).

Agora, se me pedirem conselhos, aí são outros quinhentos. Estou liberada para dar minhas opiniões. E darei, muitas. Até porque vou ter várias acumuladas, né?

domingo, 27 de junho de 2010

O Caso do Guarda-Roupa

Estamos aproveitando a mudança para dar uma geral nos pertences e passar adiante o que não temos usado ou nunca usamos. Hoje fiquei tentando reduzir a quantidade de roupas que tenho, mas tá difícil.

Tenho a tendência a nunca jogar roupa fora, porque morro de preguiça de comprar novas (acho tudo feio e caro). A sorte é que as que eu tenho costumam servir por um longo tempo (tipo, até estragar). E que minha mãe costure, e volta e meia decida fazer uma calça ou vestido pra mim. No fim das contas, eu até que ando bem-vestida (pelo menos eu acho).

Então eu penso mil vezes antes de passar uma roupa adiante. Mesmo que ela esteja fora de moda, porque acredito piamente que uma hora a tendência volta. Às vezes eu levo peças para a casa da minha mãe para ver se alguma das minhas irmãs ou tia quer, e um ano depois eu acho as que ninguém quis, fico toda feliz e pego de volta. O Maridinho morre de rir. Ele até tentou instituir uma política de que as roupas que saem daqui de casa não podem mais voltar, mas não conseguiu implementá-la, porque ele não as reconhece!

Fiquei muito tentada a usar aquela regra que manda dar fim em tudo que você não usou nos últimos seis meses (incluindo vários sapatos de salto alto, que eu abandonei mesmo). Mas puxa. Estou mudando de cidade - e se em Brasília o povo andar todo nos trinques e eu me sentir obrigada a entrar no esquema? Vou ter de comprar tudo de novo? Aí não, né? Nessa horas o poupancismo (é: agora, ao invés de pão-dura, me intitulo de poupançuda) fala mais alto.


Além disso, vamos ter de contratar uma empresa de mudança mesmo, e vai custar uma fortuna mesmo. Uma caixa a mais de roupa não faz diferença.

O problema, claro, vai ser elas não caberem no guarda-roupa do futuro e diminuto apê.

O Caso dos Cortes

Ah, como o dia tem horas, depois que eu dispensei um monte de coisas que eu passei a achar pouco necessárias. E como estou achando minha pele ótima, talvez porque eu tenha deixado de passar um monte de produtos nela, talvez porque agora eu não fique examinando cada poro. Ou talvez porque o nível de estresse em minha vida tenha caído.

Minha coleção de cosméticos está passando por outro corte. Descobri que eu não tenho apenas um, ou quem sabe dois, mas TRÊS auto-bronzeadores. Aqui faz muito sol e calor; os braços ficam bronzeados, as pernas, branquinhas. Só que: 1) auto-bronzeadores têm um cheiro bizarro e persistente 2) auto-bronzeadores deixam minha pele meio alaranjada; 3) auto-bronzeadores têm de ser aplicados duas ou três vezes por semana, porque o efeito passa rapidamente. Em outras palavras: é chato, melequento e não funciona. E eu tentei, ó. E também é uma bobagem, né? Sério, ninguém liga para a cor das minhas pernas.

domingo, 20 de junho de 2010

O Caso do Envelhecimento Feminino

Descobri este artigo da antropóloga Mirian Goldenberg que organiza várias idéias que estavam na minha cabeça. Olha, era isso que eu queria dizer!

"NO BRASIL, o corpo é um capital. Certo padrão estético é visto como uma riqueza, desejada por pessoas de diferentes camadas sociais.

Muitos percebem a aparência como veículo de ascensão social e como capital no mercado de trabalho, de casamento e de sexo. Para aprofundar essa discussão, estou fazendo um estudo comparativo com mulheres brasileiras e alemãs na faixa de 50 a 60 anos.

Já nas primeiras entrevistas, constatei um abismo entre o poder objetivo que as brasileiras conquistaram e a miséria subjetiva que aparece em seus discursos.
Elas conquistaram realização profissional, independência econômica, maior escolaridade e liberdade sexual. Mas se preocupam com excesso de peso, têm vergonha do corpo, medo da solidão.

As alemãs se revelam muito mais seguras tanto objetiva quanto subjetivamente. Mais confortáveis com o envelhecimento, enfatizam a riqueza dessa fase em termos de realizações profissionais, intelectuais e afetivas.

A discrepância entre a realidade e a miséria discursiva das brasileiras mostra que aqui a velhice é um problema muito maior, o que explica o sacrifício que muitas fazem para parecer mais jovens. A decadência do corpo, a falta de homem e a invisibilidade marcam o discurso das brasileiras. De diferentes maneiras, elas dizem: "Aqueles olhares e cantadas tão comuns sumiram. Ninguém mais me chama de gostosa. Sou uma mulher invisível".

Curiosamente, as brasileiras que se mostram mais satisfeitas não são as mais magras ou bonitas. São aquelas que estão casadas há anos. Elas têm "capital marital".
Em um mercado em que os homens disponíveis são escassos, principalmente na faixa etária pesquisada, as casadas se sentem poderosas por terem um "produto" raro e valorizado. Aqui, ter marido também é um capital.

No Brasil, onde corpo e marido são considerados capitais, o envelhecimento é experimentado como uma fase de perdas ainda maiores. Já na cultura alemã, em que diferentes capitais têm mais valor, a velhice pode ser uma fase de realizações e de extrema liberdade.

Como ressaltou Simone de Beauvoir, "a última idade" pode ser uma liberação para as mulheres, que, "submetidas durante toda a vida ao marido e dedicadas aos filhos, podem, enfim preocupar-se consigo mesmas"."

sábado, 12 de junho de 2010

O Caso Dessa Vida

Eu não acredito em destino, nem em carma, nem em mapa astral. Entendo que seja muito reconfortante crer nessas coisas, porque aí a responsabilidade pela nossa vida deixa de ser totalmente nossa. E ela nem é totalmente nossa mesmo: há um monte de fatores sobre os quais a gente não tem controle. Eu, por exemplo, dei a sorte danada de nascer em uma família de classe média, em um país onde não há guerra civil, em uma área em que não há desastres naturais, e bem espertinha (pelo menos eu acho), pra completar.

Mas que a vida dá reviravoltas inesperadas (e toma rumos inimagináveis), isso dá. E que às vezes tudo faz sentido (e se encaixa como mágica), isso faz.

Se a gente pensar bem, isso depende muito de como encaramos a realidade. Se você tem um monte de interesses e vê cada mudança como uma oportunidade, fica mais fácil se adaptar e achar tudo bom. Estou pensando em mim: nunca cogitei em sair de BH. Fui para o interior imaginando em voltar o mais rápido possível. Gostei tanto que fiquei 6 anos. (Bônus: começar um casamento longe de ambas as famílias é fantástico, vão por mim.)

Aí Maridinho decidiu fazer concursos. E pode ser chamado para Brasília. Então vambora, oras. Vou perder a tranqüilidade e o baixo custo de vida do interior, mas vou poder assistir a aulas na UnB. E não é que eles estiveram em greve e o segundo semestre vai começar só em setembro, assim que eu chegar lá?

Em sorte eu acredito.


quinta-feira, 10 de junho de 2010

O Caso dos Cabelos Brancos

Voltei da Austrália como a orgulhosa possuidora de três fios brancos na têmpora esquerda. Agora já devo ter uns bons ou seis. Eles acabam ficando meio escondidos no meio do cabelo, mas eu os estou cultivando com afinco.

Há uns anos eu tinha certeza que ia pintar os cabelos quando eles ficassem grisalhos (cada mês de uma cor diferente). Hoje eu acho que nós vamos nos dar muito bem.

Porque vejam bem: cabelos brancos a gente tem de fazer por merecer. Quem morre muito jovem não tem fios branco, ou rugas, ou a maturidade e a experiência que os anos trazem (embora não a todo mundo, é verdade).

Minha infância e adolescência não foram ruins, mas eu sou mais feliz agora, aos 34. E pretendo ir ficando cada vez mais. Mais esperta, mais inteligente, mais consciente, mais viajada, mais legal. E com lindos fios prateados pra completar.




domingo, 6 de junho de 2010

O Caso dos Modelos

Lá em Brasília, ficamos na casa de um primo do meu pai. Ele e a esposa nos receberam alegremente e nos levaram pra cima e pra baixo.

Ambos são professores doutores e dão aula na UnB. Têm a maior disposição em responder a perguntas sobre suas áreas de especialização e o mundo em geral. Moram em um apartamento acolhedor e repleto de livros (dos quais ganhei um monte e trouxe emprestado outro tanto). Conhecem um monte de gente interessante e viajam muito.

Quero ser assim quando eu crescer.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O Caso da Visita à Brasília

Estamos em Brasília. Aproveitamos o feriado para vir (re) conhecer a cidade, já que a última vez que eu estive por aqui foi há mais de 20 anos. Para o Maridinho faz menos tempo - ele veio a trabalho há uns seis.

Estou meio sem fôlego com a amplitude dos espaços e a largueza do céu (deve ser coisa de mineirinha). Brasília é uma cidade monumental, literal e figurativamente. Linda, e me fez sentir pequena (sim, eu sei que já sou pequena: menor ainda, então).

O jeito é respirar fundo e passear muito até voltar pra casa. Meu pai é da teoria que, se a mudança é pra melhor, a gente acostuma rápido. Então vamos lá. Tenho pelo menos uns três meses (o chefe atual não me libera pra começar em Brasília antes disso) para ir trabalhando a idéia.

terça-feira, 1 de junho de 2010

O Caso da Foto 5x7

Se fotos 3X4 costumam ser um horror, então a foto 5X7 é o horror ampliado. É tão feia quanto, só que cobre um espaço quase três vezes maior.

Hoje tive que tirar uma dessas. Escondi as olheiras e passei batom, mas quando ela ficou pronta percebi que, de fato, o cabelo comprido era minha única beleza. Aí fiz "pueh" pra foto, como a niña mala do Vargas Llosa me ensinou, e fui cuidar da vida.

Que fica tão mais fácil quando a gente não liga para essas bobagens.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

O Caso da Declaração

Na semana passada declarei ao Maridinho que, quando me oferecessem o Prêmio Nobel da Paz, eu ia recusar dizendo que não era da mesma laia do Kissinger e do Arafat.

Ele nem piscou o olho.

Já está acostumado com a minha megalomania.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O Caso da Senhoura

Ultimamente tenho sido chamada de senhora. O que é muito legal e uma marca de reconhecimento aos meus anos e à minha experiência, mas sempre me surpreende. Fico dando risadinhas secretas, pensando como é possível que as pessoas não percebam a criançona que eu sou.

terça-feira, 18 de maio de 2010

O Caso do Machismo na Literatura

Hoje li o "Travessuras da Menina Má", do Vargas Llosa. (É, hoje. Eu posso ser baixinha, fracota, não ter condicionamento físico nem consciência corporal, mas ainda não encontrei alguém que lesse mais rápido que eu. Ha.)

O Mariozinho é um bom escritor. Me diverti durante umas horas com ele, e fiquei querendo saber como a história ia terminar. No livro, o narrador conta, em primeira pessoa, suas aventuras e desventuras com o amor de sua vida - a menina má -, com quem ele se encontra e desencontra tendo como pano de fundo da Europa e do Peru durante as décadas de 60, 70 e 80.

Só que o "amor de sua vida" não está nem aí pra ele. Ela diz e demonstra, repetidas vezes, que não o ama e que mal gosta dele. Na verdade, ela o procura só quando está encrencada e precisa de ajuda.

Ou seja, trata-se de uma história típica de amor obsessivo. Em outras palavras, ela fala mil vezes "não" e ele se recusa a escutar, entender ou acreditar. Porque mulher não tem querer, né? Ou não sabe o que realmente quer.

A cena da primeira vez em que eles fazem amor é constrangedora: ela desinteressada e passiva, ele em êxtase. Mas a experiência dela não importa - o que importa é que ele esteja feliz, não é mesmo?

Isso não é romântico. É machista. É coisa de filmes e livros em que o "herói" beija a mulher à força e aí, finalmente, ela cede. Porque ela não sabia que, no fundo, ela queria, entende?

No fim das contas, o machismo é ruim pra todo mundo. O protagonista joga a vida fora por causa da menina má.

Bem-feito.

(Obs: toda vez que o hômi reencontra a moça, a primeira coisa que ele diz pra ela é que ela está linda. Que nunca esteve tão bonita. Que está mais linda do que antes. Que ele tinha medo de que ela não estivesse mais bonita. E é claro que, nos períodos em que por alguma razão ela não está linda, ele não quer encostar nela. Típico.)

terça-feira, 11 de maio de 2010

O Caso da Reflexão sobre os Comentários 2

Fui fazer um curso na capital, e quando voltei muita gente tinha se manifestado. Então eu vou dar opinião também. Que é simplesmente a minha opinião, e portanto não tem mais valor do que a de ninguém, tá?

Acho que existem dois focos que estão misturados aqui. Se pensarmos que o mundo é assim mesmo e que é mais prático se adaptar a ele, é claro que o melhor é tentar tirar o melhor da situação, reduzindo um pouco os cuidados de beleza e obedecedendo às regras muito difundidas (tipo depilação). Aí a idéia é "ser livre" ou "ser feliz", seguindo mais ou menos as regras do jogo. E é uma escolha válida, claro.

Mas existe um outro foco, e é nele que eu estou me concentrando. Porque as mulheres são 70% dos pobres do mundo, recebem salários menores pelo mesmo trabalho, são vítimas de violência doméstica e estupro; as carreiras tipicamente femininas (como enfermagem e ensino)são desvalorizadas; no Brasil o aborto não é legal, diversas religiões são contra os métodos anticoncepcionais e que quem sofre as conseqüências disso são as mulheres.

Nesse foco eu vejo uma co-relação entre a importância dada à aparência feminina, as restrições feitas pela sociedade em relação aos nossos corpos (regime/ausência de pelos/salto alto), a rivalidade que esses aspectos criam entre nós e aqueles problemas ali atrás.

É claro que eu posso estar redondamente enganada. É claro que tem muitas outras maneiras de ser feminista. É claro que eu não sou legal/esperta/humanista porque não uso colarzinho e que quem usa colarzinho é boba/feia/chata. Sim, eu me depilo, embora com menos freqüência e aplicação do que antes; e sim, eu aprecio o que é belo.

Mas meu novo lema é: menos beleza, mais justiça.

domingo, 2 de maio de 2010

O Caso da Reflexão sobre os Comentários

O último post recebeu um monte de comentários interessantes. As roupas unissex levaram umas torcidas de nariz. E foram muito identificadas como "roupa de homem".

De fato elas acabam sendo. As mulheres adotaram um monte de peças do guarda-roupa masculino, e os homens não quiseram nenhuma das nossas (fora algumas exceções como o Maridão da Lúcia, que usa saia). A razão me parece óbvia - quem quer se vestir como esses seres de segunda classe, as mulheres?

Mas a minha intenção, ao preferir as roupas unissex, não foi eliminar as supostas características femininas do meu visual. Foi, primeiro, fazer uma declaração política, no sentido "não sou enfeite". A maior parte das roupas "de moça" são justas e/ou curtas e/ou decotadas; ornamentadas; coloridas. Os acessórios são essencialmente estéticos e só eventualmente úteis. Em suma, são peças que, na minha opinião, estavam dizendo "olha como a minha aparência é importante. Veja como não me importo de empregar tempo e recursos para atingir esse visual harmonioso."

O segundo objetivo era ganhar tempo e mobilidade, mesmo. Roupas unissex, cores neutras, sapatos básicos e confortáveis combinam todos entre si. Eu fico pronta num instante. Mala é questão de minutos. Caminhar mais que o programado não me detona os pés. Se eu precisar me abaixar, pegar alguma coisa do chão, fugir de um incêndio, saia justa e sapato alto não vão me dificultar a vida.

E, sinceridade? Minhas roupas são unissex por definição (calça, camisa, sapato baixo), mas não no sentido que um homem mais ou menos do meu tamanho as usaria sem piscar o olho. Minhas calças têm cintura baixa e, obviamente, lugar para os quadris; minhas camisas são acinturadas, ou ficam, quando eu as coloco para dentro; meus sapatos de trabalho têm fivelinha ou lacinho (procurei sem e não achei).

No caso das roupas apropriadas para o calor, eu admito que a gente tem mais opções que os moços. Só que as alcinhas, saias, shorts e rasteiras vêm com um preço, que não é baixo: para expôr os nossos membros por aí, pele sem pelos e unhas feitas, fazendo favor. Eu trocava na hora o privilégio das blusinhas e vestidos pelo privilégio de estar pronto para ir ao clube a qualquer momento, sem preocupar com depilação/gordurinhas. Ainda que esse segundo privilégio venha acompanhado de uns momentos calorentos em festas e no trabalho.

Aí entra uma questão de ponto de vista: eu já achei a maior vantagem ter muitas opções de modelito. Hoje não acho mais, porque vejo que junto vem um monte de coisas não tão legais. Como o consumo, a competição, o excesso de importância da aparência, a existência de inúmeros códigos de comportamento (um homem vai a um casamento de manhã, de tarde e de noite de terno. No máximo muda a cor. Uma mulher precisa de roupas e acessórios completamente diferentes para cada uma dessas ocasiões).

O que nos leva a outra discussão: até que ponto expressamos nossa individualidade com o que a gente usa? Principalmente porque a gente mora no Brasil e qualquer visual "fora do padrão" gera olhares tortos (vide o Maridão da Lúcia)? Folheando as revistas femininas (e eu já as folheei muitíssimo), a gente mal encontra meia dúzia de possibilidades: a sensual, a clássica, a romântica, a rebelde (= metais e couro preto), a poderosa (que é a sensual rica) e... e o que mais, mesmo?

Sou toda ouvidos.

terça-feira, 27 de abril de 2010

O Caso da Pequena Mudança

Voltei da Austrália menos radical. Continuo não ligando muito para a aparência, mas não me importo tanto se estou vestindo roupa unissex. Primeiro porque aqui faz um calor danado, e achei besta renegar todos os vestidos e blusas de alça (que não são curtíssimos nem decotadões, só frescos). Segundo porque a crítica à moda/maquiagem vem junto com a crítica ao consumo exagerado, e não faz sentido precisar reformar o guarda-roupa pra pregar o feminismo, né?

Além do mais, não dá pra esconder o fato de que eu sou mulher, seja lá o que isso signifique. Lembro que a uns dois anos tive uma psicóloga picareta que dizia que eu tinha que "desenvolver minha feminilidade". E eu perguntava "Mas o que é feminilidade?". E ela respondia "O que é feminilidade PRA VOCÊ?".

Pois é, acho que ninguém sabe direito. (E se alguém responder que é batom, saia e cor-de-rosa leva uma sapatada. E de sapato macio e sem salto, tá?)

Mas uma coisa eu sei: o fato de ser mulher não é um limite. É um ínicio de possibilidades.

sábado, 24 de abril de 2010

O Caso da Sorte

Não é sempre, mas às vezes o feminismo, a economia e a aversão aos sapatos realmente horrendos se encontram e a Lud acha uma sapatilha Usaflex de couro, prata velha, do número dela e pela metade do preço.

Eu sei: a Usaflex tem sapatos realmente horrendos, mas esse (assim como outro que eu estava usando aqui) é lindinho, juro. E os sapatos da marca são os mais confortáveis que eu já usei. Incluindo as sapatilhas, que não mastigam meus tendões como outras costumam fazer.

Aproveitei e pedi para a vendedora guardar o único outro par que tinha na loja para uma amiga que vai viajar. Ela é uma amiga muito bem-arrumada e fã de saltos, mas com esse golpe eu tenho certeza que a trago para a turma dos sapatos baixinhos e macios.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O Caso da Irritação

Acho que o que mais me irrita nos padrões de beleza impostos às mulheres é que a gente nunca está pronta pra nada. Vamos ali no clube nadar? Peraí, tenho de checar se a depilação está em dia. Vamos a uma festa de casamento em meia hora? Ah, não tem jeito, não tenho vestido, as unhas não estão feitas, e o salão? Vamos passar na casa dos meus tios? Imagina, conhecer sua família com essa roupa horrorosa, claro que não. Dorme aqui em casa? Ih, não dá, como é que vou trabalhar amanhã vestida do mesmo jeito. Etc. etc.


Em suma: a gente se diverte muito menos do que poderia.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O Caso da Mudança

Agora é oficial: em setembro nos mudamos pra Brasília. Diz o Renato Russo (em Faroeste Caboclo, lembram?) que "neste país lugar melhor não há". Confirma?

Só estive lá quando eu era criança. Tenho vagas lembranças de ter tido catapora, de minha mãe não ter me deixado nadar na famosa piscina de ondas (para não contagiar as outras criancinhas, humpf), de ter voado de avião pela primeira vez (e de perguntar insistentemente onde ficava o pára-quedas até um cara nervoso gritar para eu ficar quieta, o que me deixou magoadíssima). Ou seja, não sei muito bem onde estou me metendo.

Acho que vai ser ótimo: vou trabalhar em uma área diferente e, espera-se, empolgante (que área, exatamente, ainda está em discussão. Mas as duas opções são ótimas). Fico pensando na biblioteca do Senado, na UnB (adoro uma universidade), na arquitetura do Niemeyer e nos lugares bonitos e arborizados para caminhar. Estou tentando abstrair o preço absurdo dos aluguéis no Plano Piloto (sim, já comecei a olhar na internet) e a feiúra dos apês disponíveis (disponíveis pra mim: pagando 4 mil reais por mês, tem coisa bem bonitinha). Ah, as cerâmicas da época da construção da cidade. Os armários do tempo do onça. Os boxes de acrílico. E os rejuntes? Alguém aí sonha em montar um laboratório caseiro de penicilina?

Mas não é razão para arrancar os (meus poucos) cabelos: já descobri que procurando muito mesmo e não me importando de pagar três vezes o que custa aqui um apartamento novo e espaçoso, dá para encontrar opções parcialmente reformadas (na década passada; reformado nos anos 80 não vale), com dois quartos e dois banheiros (essencial para receber as visitas que estão me prometendo).

Não estou reclamando, só estou comentando. E como eu dizia, a UnB...

domingo, 11 de abril de 2010

O Caso das Australianas

Achei o relacionamento das australianas com a aparência bem diferente do nosso (modo generalização ativo).

Um monte de mulheres não usa maquiagem e/ou faz as unhas. As mais jovens são mais chegadas nessas coisas (acho que é influência americana), mas mesmo assim elas saem descabeladas e descalças (descalças, juro!) quando lhes dá na telha. Existem revistas de celebridades e revistas femininas, mas não muitas.

Nas cidades grandes em que estive - Melbourne e Sydney -, o pessoal usa as roupas do jeito que bem quer (incluindo os homens). O que significa muitas combinações e cabelos que umas das meninas que estavam comigo achou hor-rí-veis, e que eu adorei, porque o povo não se preocupa em "estar na moda". Acho que tem um cuidado com o visual, sim, mas a idéia é mais "se expressar" do que seguir um padrão.

Nas cidades do interior, não tinha ninguém de cabelo rosa, mas vi montes e montes de cabelos brancos/curtos entre as mulheres de 40/50/60. Uma das mulheres que me hospedou estava na casa dos 60 e pintava o cabelo de castanho-escuro, com altas mechas vermelho-sangue. Liberdade total.

E o pessoal definitivamente valoriza o conforto, mesmo nas ocasiões formais. Sapatos baixos pra tudo quanto é lado, poucos decotes e, engraçado, algumas moças de saias e shorts curtíssimos. Mas sem o menor apelo sensual (eu pelo menos achei).

As australianas são menos "bonitas" do que as brasileiras (pelos nossos padrões)? São. Mas elas não me pareceram ser menos felizes por causa disso. Nem ter mais dificuldades em relacionamentos (os quais muitas vezes elas tomam a frente para iniciar). Tem desigualdade entre os gêneros na Austrália (salários menores, menor representação política)? Tem. Mas as pessoas têm consciência disso e o governo banca programas para combatê-los. E as mulheres me pareceram muito independentes (pra sair da casa dos pais, para escolher carreiras, para abrir negócios - mais de 30% das pequenas empresas australianas são comandadas por mulheres).

Existe uma ligação direta entre a menor preocupação com a aparência das australianas e sua situação na sociedade (que me pareceu melhor do que a das mulheres brasileiras em geral)? Será que a segunda é causa da primeira? Será que a primeira acaba retroalimentando a segunda? Será que a beleza brasileira é uma estratégia de sobrevivência em um país machista e em desenvolvimento?

Eu só sei que a mulher australiana gasta menos tempo, dinheiro e neurônios com o visual. E ninguém morreu por causa disso.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O Caso da Praticidade em Viagens

essa viagem à Austrália, de cinco semanas, inaugurei uma nova era da praticidade: cabelo curto e sapatos totalmente confortáveis.

Enquanto as minhas amigas de cabelos longos sofriam com os banhos rápidos, as chuvas eventuais e as casas nas quais não havia secador, eu lavava a cabeça em dois minutos e ainda podia dormir com o cabelo molhado. (É verdade que aí às vezes ele acordava arrepiado, mas eu botava um boné enquanto trocava de roupa - manha do Maridinho! - e pronto, ele voltava ao normal.)

Enquanto as moças do grupo xingavam as caminhadas prolongadas, eu saltitava alegremente no meu tênis (preto) e em duas pseudo-sapatilhas dessas linhas conforto. (Nenhum dos duas foi barata e eles não são exatamente lindas, mas visualmente elas enganam bem e meus pezinhos ficaram ótimos.)

Devo acrescentar que o uniforme do programa (camisa pólo e calça jeans) ajudou muito na praticidade: não tinha de ficar pensando no modelito do dia. O fato de os australianos serem bastante informais, também.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O Caso dos Detalhes do Intercâmbio Profissional

O intercâmbio foi no estado de Victoria, que fica no sul da Austrália. Fiquei hospedada por cinco famílias em cinco cidades diferentes: Ballarat, Nhill, Geelong, Portland, Colac. E bota diferentes nisso: Nhill tem 800 habitantes; Geelong, meio milhão. Fui a fazendas, plantações, empresas e portos. Na parte profissional, visitei dois escritórios de advocacia, dois de contabilidade, dois tribunais, dois jornais e um estúdio de tevê (é, eu sou formada em direito e comunicação. No meu trabalho mexo com legislação, mas é claro que as visitas jornalísticas foram muito mais legais. Se bem que a Suprema Corte Australiana estava visitando Geelong. Jamais esquecerei os juízes de toga vermelha e peruquinha branca com rolinhos laterais).

Fizemos apresentações sobre nós, nossos empregos e o Brasil (7 vezes) e respondemos a milhares de perguntas. Nessa hora meus estudos históricos e geográficos compensaram lindamente.

Os australianos são fofos. Eles são amigáveis, receptivos e bem-humorados. Gostam de argumentar e trocar idéias. Não ligam a mínima para as aparências (dei altas dicas de como economizar em NY para um engenheiro simpático de jeans e tênis, e depois me contaram que ele tinha um Porshe na garagem).

A Austrália que eu conheci é muito arrumadinha e limpinha. Não vi pessoas carentes em Victoria. Já em Sydney havia três pedindo dinheiro muito humildemente. Há uma rede de proteção social muito boa: seguro-desemprego eterno, auxílio-aluguel, educação e saúde gratuitas e de boa qualidade, apesar de eu ter escutado reclamações sobre filas para intervenções cirúrgicas. Quem não quer esperar e pode pagar pode apelar para os planos de saúde privada.

Por outro lado, faltam profissionais de saúde. Dentista, então, nem se fala. Os que existem adoram arrancar dente, e o resultado é que vimos muita, muita gente bem de vida sem dentinhos aqui e acolá na boca. Como disse a dentista da nossa turma, "Na Austrália pré-molar é luxo".

O custo de vida é alto. Tudo é caro, de comida a roupa a aluguel. Por outro lado, as pessoas ganham bem. Um advogado formado a pouco tempo me contou que ganhava 40 mil dólares australianos por ano. E que profissionais técnicos, como eletricistas e motoristas, recebem tão bem quanto ("e os horários de trabalho são melhores," brincou o advogado).

A Austrália é um país muito novo: a Constituição Federal deles é de 1901. Ou seja, não tiveram tempo ainda de desenvolver uma cultura marcadamente própria. Quase tudo é herança direta dos ingleses/escoceses/irlandeses, pelo menos no estado que visitei. Eles gostam muito de dar nomes aborígenes às cidades, mas exterminaram quase toda a população nativa (igualzinho a gente fez, mas pelo menos no Brasil os portugueses se reproduziram alegremente com as índias, então pelo menos a herança genética ficou. A avó do Maridinho jura que a mãe dela era índia da tribo, e o meu cunhado tem olhos e cabelos negros como a asa da graúna).

Então, na parte cultural, o Brasil é muito mais legal. E eu realmente tenho esperanças que vamos conseguir transformar crescimento econômico em desenvolvimento econômico, com mais oportunidades e melhor distribuição de renda pra todo mundo, igualzinho à Austrália. Aí sim.